domingo, 24 de abril de 2016

Fomos às sopas do Espírito Santo


As sopas do Espírito Santo
Na nossa ilha Terceira
Têm Um sabor de Primeira
Ai eu gosto tanto, tanto!
As sopas do Espírito Santo
Na nossa ilha Terceira
Têm o sabor da ilha inteira
Ai elas são um espanto!
As sopas do Espírito Santo 
Em casa do Victor Carreiro
Regadas com vinho de cheiro
Ai sabiam a fé e encanto!
As sopas do Espírito Santo
Tinham um sabor apurado
A lava, maresia e prado,
Promessa, devoção e preito!


Clara Faria da Rosa,
24/Abril/2016

Dia de função em casa do Vítor e Zélia Carreiro


Depois da Páscoa, nos Açores:

Logo depois da Páscoa,
Nos Açores,
O arquipélago é um altar
E cada ilha é uma mesa
Para o  Espírito Santo louvar,
São cortejos para a igreja
Onde o imperador vai coroar,
E depois a mesa posta
Numa fartura sem par...
Massa doce, carne 
E  esculturas de alfenim,
Muito pão
Em arrendados açafates,
Vinho a borbulhar
No canjirão,
E copos enfeitados
De alvos e doces confeitos.
É o povo ilhéu
Religioso e  profano
Na sua fé,
Crente e  festeiro,
O terço rezando,
Com  muito fervor,
Numa sentida prece, 
Num hino, num louvor  
Ao Divino Espírito Santo!
Então, no sétimo domingo,
No terreiro do local,
É o culminar
Da abundância e da partilha,
É a terceira pessoa louvar...
Em cada casa, em cada ilha!


 Clara Faria da Rosa 














segunda-feira, 18 de abril de 2016

Considerações sobre o Flautista de Hamelin


No âmbito do plano de desratização que a junta de freguesia se São Pedro de Angra, à semelhança de outras localidades, está a desenvolver, tocam o sino do meu portão e deparo-me com os funcionários que vêm proceder à aplicação do raticida competente. Lá fico eu debruçada de varanda, vendo a operação da distribuição dos saquinhos cor-de rosa, que enchiam grandes recipientes, por mãos devidamente protegidas por luvas apropriadas.
 Eis senão quando, dou por mim a pensar numa lenda alemã, contada pelos irmãos Grimm que nos relatam que, na cidade alemã de Hamelin grassava uma praga de ratos que muito incomodava e assustava a população; Vai daí, apareceu um homem que se ofereceu para eliminar tal praga em troco duma recompensa, uma moeda por cada rato e assim o fez, pegou na sua flauta e de tal sorte tocou que os roedores hipnotizados, pois sabe-se que os ratos podem ser levados à loucura com sons de alta frequência, o seguiram até ao rio Weser,  em cujas margens se situava a cidade, morrendo todos afogados. Acabada a tarefa, voltou o flautista para receber a paga combinada, mas os governantes fizeram-se de esquecidos, e não cumpriram o prometido isto é a paga pelo serviço prestado. Então o flautista irritado, pegou na sua flauta e tocou de novo de tal forma que 130 crianças o seguiram sem que nunca mais se soubesse delas. A cidade, embora com os celeiros cheios e as hortas viçosas, ficou deserta e triste com tal acontecimento.
Isto é o que reza a lenda e o conto, contudo estudos posteriormente efectuados chegam  à conclusão que não eram crianças, mas jovens adolescentes  aborrecidos, desempregados e com sede de aventura ,
 que saíram da cidade, deslocando-se para leste à procura de maior liberdade, mais abundância, trabalho, enfim à procura da sorte. Esta lenda data  do séc. XIII, mais propriamente de 1284 no entanto ao vermos os noticiários actuais, que relatam o drama de milhares de refugiados que saem descontentes das suas terras à procura de vida melhor  e dos jovens portugueses que emigram procurando trabalho que lhes possibilite uma vida digna, concluímos que oito séculos passados não representaram nada, e não foi preciso flautistas nem flautas, bastou somente que alguns governantes e poderosos ambiciosos, gananciosos, se considerassem donos do Mundo para que a situação descambásse até esta situação em que os povos se encontram
Parece-me que a ganância, a falta de escrúpulo, de ética e de respeito é de tal ordem que o que eles querem é que apareça um flautista que toque a sua flauta e leve os pobres, os velhos, as crianças indefesas e os desempregados até aos rios e mares, para assim eles ficarem sozinhos, palitando os dentes, de panças bem cheias, tão cheias como as suas extraordinárias contas bancárias!
Não é que ao chegar a esta conclusão ouço a voz dos homens que dizem:
- Pronto senhora, já acabámos a nossa tarefa, agora vamos esperar para ver se eles gostam do "pitéu", pode fechar o portão, tenha um bom dia!     

segunda-feira, 11 de abril de 2016

Alfenim

Agora que estamos a reviver novamente, nos Açores, o Ciclo do Espírito Santo, convém recordar que aqui na ilha Terceira, Açores, é hábito as pessoas oferecerem aos impérios peças de alfenim, em cumprimento de promessas feitas ao Divino Espírito Santo, em momentos de aflição e ou de dor. Estas peças depois são  arrematadas ( leiloadas ), normalmente à porta do império, momento que muitas vezes se reveste de imensa graça, atendendo ao clima de descontracção que se vive, porque normalmente todos se conhecem, e ao que o leiloeiro diz para captar a atenção dos presentes para que  licitem e  entrem em despique para ver se o lance vai aumentando. 
Estas são algumas das peças representativas desta tradição, normalmente o formato tem a ver com o tipo de promessa que se faz e então tomam a forma de membros do corpo, de animais e ou outros.
O alfenim é um doce de tacho, feito com açúcar e água suficiente para o cobrir e vinagre. Após tomar o ponto ideal é trabalhado quente de modo a serem modeladas as peças pretendidas. Este doce como o nome indica é de origem árabe (al-fenid).Alfenim e significa "aquilo que é branco".
O alfenim era uma guloseima oriental muito popular, em Portugal, nos fins do séc. XV e inícios do séc, XVI. Esta receita veio para os Açores trazida por elementos mouriscos que cá se fixaram. Era prenda de luxo, servindo para presentear pessoas distintas, também era usada para ornamentar as mesas dos noivos,


Alfenim:

As mulheres da terceira
Linda ilha dos Açores
Em jeito de brincadeira
Fazem do açúcar flores.

 

Flores, frutos e animais
Tudo branquinho e doce
Finura vista jamais
E prometidas em prece.

 

São mãos de fada ágeis
Que com habilidade e gosto
Fazem estas peças frágeis
De requintado bom-gosto.

 

O calor suas mãos queima
Em tal artístico labor
Aquece o coração e teima
Fazer do trabalho louvor!



11/04/2016
Clara Faria da Rosa

         Eu queria ter um irmão!

Irmão, palavra musical e linda
Que rima com a palavra mão
Aquela mão 
Que estendida e aberta ajuda,
E com a palavra  coração
Aquele coração
Que desculpa, compreende e  ama!
Um irmão não briga,
Um irmão perdoa,
Um irmão abraça
Até que o peito doa!
Irmãos se ajudam
irmãos se amam 
irmãos brincam muito
irmãos riem junto!
Eu queria ter um irmão
Para com ele rir e chorar,
Eu queria ter um irmão
Para o poder muito amar,
E para junto com ele
O mundo poder vencer,
E para junto com ele
O mal nunca temer...
 11/04/2016 - dia do irmão
Clara Faria da Rosa



quinta-feira, 7 de abril de 2016



Se a tristeza fosse...
Se a tristeza fosse uma flor...
Teria as pétalas caídas,
A olhar a terra escura,
Esquecendo a frescura,
Que nos trazem nossos dias.
Se a tristeza fosse o mar...
Seria negra, revolta, escura,
Beijaria com força as rochas,
Esmagando altas ondas,
Uivando com amargura.
Se a tristeza fosse uma lágrima...
Seria viscosa, grossa, pesada,
Correria lenta e sem vontade ,
Denunciando toda a maldade,
Que a faz correr agoniada.
Se a tristeza fosse a noite...
Duraria eternamente,
Sem deixar o Sol sorrir,
Nem a maldade partir,
Num escuro permanente.
Mas..
A tristeza não é noite, nem é flor,
Não é lágrima, nem é mar,
É muitas vezes grande dor,
Que nos vem de muito AMAR!
Clara Faria da Rosa

Viajando de chávena até Massarelos




Há quem viaje da barco, de avião, de comboio, de autocarro, de balão a pé ou até mesmo, como no caso das bruxas, de vassoura; Pois é, a vida tem destas coisas, eu hoje deu-me para viajar de chávena, o que não é caso para admirar, visto neste mundo, haver lugar para as mais diversas e variadas extravagancias.
Pois lá vou eu muito bem acondicionada, nem galinha choca no seu linheiro, até um  antiga freguesia de Portugal, situada nas margens do rio Douro, pertencente ao concelho do Porto, chamada Massarelos e que actualmente pertence à União da Junta de Freguesia de Lordelo,Ouro e Massarelos.
Fui à procura da origem, ou da árvore genealógico das minhas chávenas, porque foi  nesta localidade de Massarelos que funcionou a mais antiga fábrica de faiança do norte de Portugal, fundada em no SÉC.XVIII em 1763 ou 1766 ( Encontrei as duas datas ), até que o primitivo edifício foi consumido por um incêndio em 1920 tendo depois em 1926 sido vendida à Companhia da Fábrica de Cerâmicas Lusitana que numa fase de expansão, comprou fábricas falidas por todo o país.
São desta época as chávenas de chá/almoçadeiras que te mostro, peças vintage, da fábrica Lusitânia período Massarelos, decoradas com motivos orientais e carimbo do início de séc. XX, uma das quais me serviu de meio de transporte, nesta aventura .
Sendo uma sentimentalona,  gosto especialmente   de trazer o passado para o presente, sobretudo quando se trata de peças de encanto, que como estas, continuam maravilhosas após tantos anos.
Depois desta breve viagem por um mundo que para mim é mágico, faço-te o seguinte convite:
Que tal vires cá a casa tomar um chá numa Massarelos, embarcas também nesta aventura e no gosto por estes assuntos? A água já ferve, traz uns bolinhos!!!









segunda-feira, 4 de abril de 2016

Já se passaram faz hoje sete anos que partiu a minha amiga Bélia Barcelos Cota e não a esqueci...
Lembro-me de lhe dizer muitas vezes que gostava de saber passar o tempo como ela, com a mesma força, a mesma inteligência, a mesma curiosidade e a mesma elegância. Sim, porque a Dona Bélia, como eu lhe chamava , apesar de sermos muito amigas, era uma anciã, ( palavra que por definição significa pessoa velha e veneranda), mas era mais nova do que muitos jovens, arranjava-se com elegância, recebia os amigos sempre com muita alegria, era uma pessoa que lia muito, por isso informada e actualizada, corajosa e que tinha sonhos e projectos... Que viveu como eu gostaria de viver mas que morreu de uma forma imerecida e cruel, que quero esquecer! Agora percebem porque sinto muito a falta desta amiga e não a esqueço .
Pois é, a amizade é isto mesmo, recordações, alegrias e tristezas, preocupações,ajuda e conforto ou desconforto mas é um sentimento gratificante que nos enriquece, engrandece, purifica e nos une para além da vida, pelo que nunca vou esquecer a minha querida amiga Bélia Barcelos Cota!

domingo, 3 de abril de 2016

Uma mulher de trabalho,sonhadora e excêntrica:

Considero-me ser o que, à moda antiga, se dizia  uma mulher de trabalho, não viro a cara a nada do que é preciso fazer, quer seja nas lides caseiras, na cozinha, no quintal, também dou uma mãozinha na costura simples isto entre outros afazeres, tendo perfeita noção de que não me devo vangloriar disso, pois essas competências só são possíveis levar a cabo quando há saúde, quando ela falta vai-se tudo, e como se sabe, isso não podemos, nem eu nem ninguém, controlar, de um momento para o outro aparece a doença que traz, em muitos casos, a incompetência perante a realização das tarefas mais comezinhas.
Como ia dizendo sou uma mulher trabalhadora, contudo há uma tarefa que detesto, detesto mesmo, que é aspirar, não sei se é devido ao barulho que não me deixa pensar enquanto faço esse trabalho, se é por causa de ter que andar com aquele "Trambolho" de um lado para o outro, não sei, o certo é que abomino esta tarefa. Não é que ontem, enquanto aspirava o tapete na entrada, comecei a pensar: 
- O que este tapete precisava agora era de uma boa lavagem de joelhos, com escova,  bastante água, sabão e depois sol...
- Deixa-te disso, tu é que precisavas de um tapete mágico que não precisasse ser aspirado!
- Um tapete  mágico...que delícia! Um tapete onde os pés pisassem e que ficasse sempre limpo, com as cores vivas e os desenhos bem visíveis a dar as boas-vindas a quem entra.  
- E se for um tapete mágico e voador que me leve a outros mundos, a outros povos a outras aprendizagens, a vencer a minha ignorância contra a qual luto diariamente, a descobrir coisa novas, coisa maravilhosas e imprevistas??!!
-E um tapete voador que me transporte aos meus amigos ausentes, e ao passado que eu adoraria trazer de volta, e a recordações que adoraria reviver, e ao futuro que me revele o que o destino me reserva??!!
Eis senão quando, ouço o forte ronronar do aspirador que  fazendo-me acordar do meu sonho e voltar à dura realidade daquela detestável tarefa, exclama:
- Deixa-te disso, não sejas parva, aproveita o momento presente e o que tens, o passado e o futuro são apenas uma sucessão de momentos presentes na vida que vamos atravessando, exageras a sua importância  porque eles já se foram, ou porque ainda estão para vir...
-Não é que o danado do aspirador tem razão! -Pensei eu continuando a aspirar... se bem que esteja certa, de que ter razão não é tudo na vida, é sempre agradável viver um pouco de fantasia mesmo que excêntrica e irracional como esta que acabo de partilhar. 


Mesas De Honra (Workshop)


Sou de opinião que manifestar interesse por qualquer actividade  seja ela física ou mental, mais ou menos corriqueira, demonstra um saudável instinto de sobrevivência a vários níveis e traz benefícios a curto, a médio e a longo  prazo incalculáveis;Acreditando também que o tempo e as oportunidades são duas coisas únicas na nossa vida inteira que não podem ser compradas, só gozadas, apressei-me a aproveitar uma oportunidade com que me deparei através de um anuncio num jornal local: -O Museu de Angra do Heroísmo  ia promover um "Workshop" intitulado MESAS DE HONRA!
Lá me inscrevi, porque não sou pessoa de ficar sentada à espera que o destino resolva a minha vida, gosto de influenciá-la, de resolvê-la, e em em boa hora o fiz!
Foi uma tarde de sábado em que através do Professor de restaurante e bar da Escola Profissional da Praia da Vitória Paulo Pires aprimorei  e viajei por vários saberes no campo do fausto das mesas de cerimónia de séculos passados,os quais através do saber e do entusiasmo do mestre foram música para os meus ouvidos,e pintura para os meus olhos, saber esse transposto para os nossos dias e para ocasiões especificas  e que tocaram em pontos vários como:
Alinhamento das mesas , necessidade do bancal ou protecção, marcação de lugares, talheres, pratos copos, guardanapos, protocolos etc. Isto tudo com um saber, uma minúcia , um pormenor de relevo explicando não só como deve ser feito mas o porquê e apresentando alternativas aceitáveis. Após o que as participantes treinaram, acabando sentadas a uma sumptuosa e requintada mesa, embora sem repasto, o que não preocupou ninguém tal era o grau de satisfação geral!
Para terminar foi feita uma ligação pedagógica às peças de baixelas expostas na exposição do museu " Do Mar e da Terra ...Uma História no Atlântico"
Enfim, adorei, não sei se por ser uma tarde de Primavera que faz com que as mulheres apreciem com mais pormenor e minúcia as coisas belas e os momentos únicos e requintados, mas estou em crer que foi mais pelo entusiasmo saber e oportunidade do professor Paulo Pires a quem agradeço a transmissão de tantos saberes adquiridos ao longo de uma rica e variada carreira profissional. Um agradecimento especial ao Museu de Angra por ter levado a cabo tão louvável iniciativa!