sexta-feira, 19 de novembro de 2021

O "Home da minha mãe"


Havia uma criança, numa das escolas onde lecionei que, quando se referia ao pai, falava  sempre no "Home da sua mãe"  Omitindo o m final.

Ao principio não liguei mas,  achando esquisito, tentei aprofundar e perguntava:

- Quem te trouxe à escola? Resposta pronta do garoto:

-Foi o "home" da minha mãe!

-Quem te comprou este caderno?

- Foi o "home" da minha mãe!

E assim sucessivamente até que, cheia de boa vontade, resolvi corrigir:

-Não, foi o teu pai! 

Ao que ele replicava: 

-  Na, na, foi o "home" da minha mãe!

Falei, do caso, com a minha colega Saúde Almeida, muito mais experiente e sabedora do que eu e, logo fiquei esclarecida.

Não te preocupes, o miúdo imita a mãe que se refere ao marido como "o meu home".

Convém aqui esclarecer que na Terceira, linda ilha dos Açores, havia muito o hábito de se dispensar a última letra, o que ainda acontece mas muito menos, ele era a mulhé, a  colhé, o automóve etc. . Enfim, isto são outros quinhentos com muito a aprofundar, o que não cabe aqui...

Vai daí que, indo hoje à baixa da cidade  de Angra  do Heroísmo, me deparei com a artéria principal, a nossa rua da Sé, engalanada com imensos balões azuis,  numa alusão ao dia internacional do homem que eu desconhecia existir,  mas ao que parece, este dia já é celebrado desde 1999, o que não é nada de anormal pois se há o dia  da mulher, do irmão, da criança, dos avós porque não lembrar os homens lutadores, corajosos, com bom coração, modelos positivos, com vidas decentes e honestas, que trabalham em serviços pesados e difíceis e ganham uma ninharia para sustentarem a família e colaboram com a esposa para que em casa vivam com dignidade?. 

Lembrei-me então do meu marido, o meu "home". que tem muitos defeitos, que não é um santo mas é um homem sério a quem tenho visto, ao longo destes cinquenta anos de convivência, fazer coisas que jamais sonharia vê-lo fazer...

Vi-o tratar do meu pai, meter-lhe com carinho a comida na boca,  tratar do seu pai, pegar nele da cama para a cadeira de rodas, sair de casa todas as noites, pela meia noite quer chovesse ou ventasse, para mudar a falda à sua mãe e mudá-la de posição,  vejo-o tratar com desvelo a sua irmã tentando que nada lhe falte, vi-o chorar quando o filho saiu de casa, pela primeira vez, para frequentar a universidade, e ouviu dizer:

-Se não fosse para bem dele não o deixava ir!

Enfim, um homem com defeitos? Sim, mas para mim basta é um homem  atento à família, lutador, trabalhador, poupado e amigo dos outros. São estes Valores que hoje são lembrados e enaltecidos nos homens que nos rodeiam, que nos acompanham , que nos ajudam  a viver!!!

"OS HOMES DAS NOSSAS VIDAS!