domingo, 30 de setembro de 2018

Reavivando amizades...


Com a proximidade das festas  da vila das Lajes, que encerram o ciclo festivo da nossa ilha, fico sempre muito nostálgica porque me lembro da azáfama que se vivia na nossa casa nos dias que  as precediam. Era a pintura da casa para ficar tudo fresco, como dizia a minha mãe, limpezas gerais, a compra de um bezerro do qual o meu pai era quinhoeiro, para se fazerem as alcatras com abundância , o ir com o meu pai apanhar  folhas de coquilho ou conteiras para serem tendidos os pães de massa sovada que enchiam o forno e a cozinha de um odor inesquecível e eram os amigos e parentes que vinham de outros lugares para nos visitarem...
Ponho-me a pensar na multidão de pessoas com quem partilhei vivências e  experiências de infância semelhantes, com quem fui à catequese e à escola e lembrei-me de um feliz encontro, numa pastelaria da nossa cidade, no princípio deste mês agora a findar. 
Para mim, um encontro, é uma maneira de recuperar amizades, amor, valores, recordações, raízes e até mesmo, e porque não? Cheiros e sabores! E foi o que se passou:
- Num gesto de boas-vindas e de saudade por duas amigas lajenses a Marcionilde e a mana Aldegisse, juntá-mo-nos à volta de sabores e odores tradicionais e desfilámos um rosário de recordações sem fim... tudo veio à superfície, tudo foi lembrado: pessoas, hábitos e costumes, festas, acontecimentos, até nos lembrámos da primeira dança de Carnaval, feita nas Lajes, com  mulheres, em que uma das participantes foi a Aldegisse, ainda me lembro das roupas e dos adereços que usavam ao pescoço, uma fita de veludo preta com um belo medalhão que, aos meus olhos de criança, parecia uma jóia preciosa!
E  o encontro acabou com mimos vindos da Califórnia, com uma amizade reforçada e com vontade de novo encontro.
Não podemos voltar atrás nem fazer com que as coisas voltem a ser o que eram, mas podemos reavivar amizades e recordações em vez de as metermos no armário do esquecimento o que, quanto a mim, é muito, muito salutar e gratificante!
















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domingo, 2 de setembro de 2018

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Vão-se lá entender os adultos! 

Estes são os meu avós paternos Maria Borges de Meneses 1895-1969 e António Machado de Almeida 1880-1949 que viveram e criaram os seus filhos  em Santa luzia da Praia da Vitória, ilha Terceira. Por hoje ser dia de festa nesta localidade, deu-me para pensar neles, sobretudo na minha avó pois do meu avô  não tenho memórias, por ter falecido, tinha eu um ano.
Ia sempre passar as festas para casa da minha avó, o que para mim era uma alegria, pois era também uma oportunidade de conviver com os meus primos.
Guardo na minha memória muitas histórias desses tempos e hoje lembrei-me especialmente que no dia da procissão, depois do jantar, a minha avó vestia a sua casaca de brocado preto e a sua saia castanha, ajeitava o seu pelo com ganchos de osso e alisava bem o cabelo que prendia com bonitas travessas, punha a sua sombrinha no braço, pegava no missal e no seu terço e lá me levava a reboque para a missa - de - festa e sermão.
Era um martírio para mim, porque a avó era do tempo em que não havia carros e, por isso, tinha tendência para andar no meio da estrada e eu tinha que estar continuamente a puxá-la para a berma da estrada pois os carros dos americanos da base da Lajes, ali ao pé, quase no quintal, ferviam!
Na igreja era só gente de idade e adultos, as roupas cheiravam a naftalina e eu , aos pés da minha avó, sentada no pequeno banquinho de ajoelhar, olhava para o púlpito, para os torneados de madeira com uns anjinhos todos pretos, até as asas, e para o pregador, atónita, sem perceber nada, mas parecendo-me, a certa altura, perceber que ele ameaçava os presentes! Mas porquê se eu até fazia tudo o que me mandavam e rezava à noite as minhas orações?

- Avó, ele está zangado comigo?
-Cala-te rapariga, isto não são assuntos para ti!!!
Vão-se lá entender os adultos...