domingo, 16 de agosto de 2015

Eu era rica e não sabia!!!

Fui à minha casa das Lajes, a casa dos meus pais, e encontrei na casa de arrumos, as medidas o alqueire ou  rasoira, como o meu pai dizia, e só agora percebo a razão do termo rasoira.

Sendo  o alqueire ou rasoira uma unidade de medida para secos, feijão, milho, trigo, tremoços, farinha etc. esses mesmos produtos tinham que ficar rasos, na medida certa, para que a equivalência fosse correcta.

A palavra alqueire é uma palavra de origem árabe como alcatra, alfenim, alguidar etc.  e este objecto ou medida de madeira era, em tempos idos, muito usado, de tal maneira que estas medidas de que te falo, não são objectos para turista ver, estão muito gastas, como podes ver pela foto que te mostro, e algumas têm falta das pegas a que o meu pai chamava orelhas.
Oficialmente esta medida  "Alqueire" foi padronizada  pelo Marquês de Pombal em 1755 , após o terramoto, em 13,9 litros e divide-se em meio alqueire, quarta e meia quarta.
Só recentemente se fala em litros e quilos e já não se usam estas caixas para medição.
 No momento em que as toco para as limpar e restaurar, na medida do possível, o meu pensamento leva-me à minha infância, vejo o meu pai a semear o trigo e o milho, vejo estes cereais crescerem, o dia de ceifar o trigo e as desfolhadas que se faziam no nosso quintal, ouço o chiar do carro de bois carregadinho de molhos de trigo a caminho da debulhadora,  e vejo  sacos de trigo, como os da 
foto, empilhados a um canto donde a minha mãe ia tirando o suficiente, que media nas "rasoiras ou maquias " cuja foto mostro, para o moleiro levar e transformar em farinha, ficando o sobejante para a sementeira do ano seguinte.
Lembro a minha mãe, toda empoada, peneirando a farinha para fazer o pão que amassava, de mangas arregaçadas, em alguidares de barro sobre rodelas de trabalho louco, que fazia aos domingos , sentada no canto do estrado, e lembro o cheiro do pão quentinho ao sair do forno, que a minha mãe abafava  com os abafadores, também feitos por ela, para que o pão ficasse muito maciinho, como  dizia .
Então dou por mim a pensar:
- que infância feliz eu tive!
Não sabia o que era pão de forma, nem pão bimbo, nem padeiros, nem padarias, nem pastelarias, mas sabia que podia contar com o trabalho e o amor dos meus pais, que não estavam preocupados com a inflação, nem com a descida dos ordenados,  nem com os impostos, mas sim com o seu trabalho, pois sabiam que se tivessem saúde, pão não nos faltaria na nossa mesa...
Eu era rica e não sabia!!!