sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Um dia diferente:

O lume  crepita no forno e a alcatra espera a sua hora: 



Hoje resolvi fazer  alcatras, claro que não comemos tudo agora , congelo e quando chegar à altura é só descongelar e aquecer no forno ou na chama do fogão, quando ela borbulhar um agradabilíssimo cheirinho pairará no ar e toda a gente adivinhará qual a ementa .
Em certos dias de festa faço sempre comida tradicional, como a minha mãe fazia: sopa, cozido, alcatra acompanhada com massa sovada e arroz doce.
Tudo isto regado com vinho de cheiro da casa. Normalmente sirvo uma angelica caseira como aperitivo.
Gosto muito deste dia e uso as toalhas, louças, copos , jarros e talheres que eram da casa dos meus pais.
Mas vamos lá falar da alcatra que é o prato característico por excelência da ilha Terceira que nos faz voltar ao tempo da passagem das naus portuguesas nos Açores, vindas da Índia e das Américas, no tempo dos descobrimentos, pois utiliza  especiarias tornando-o num prato delicioso e muito aromático.
A palavra alcatra vem do árabe AL-KATRA que significa parte ou pedaço e designa a parte do animal onde acaba o lombo, é uma das melhores partes do animal, há quem defenda que este prato tem como antepassado a chanfana trazida pelos povoadores que para cá vieram das beiras e que depois foi sofrendo alterações e adquiriu um sabor muito característico devido ao recipiente onde é cozinhado, o alguidar de barro, que para mim, quanto mais usado melhor.  As melhores alcatras são cozinhadas no forno a lenha, como faziam as nossas avós e mães, pois não havia casa que se prezasse sem forno para cozer o pão, assar batatas doces, mogangos, alcatras da carne, de feijão, de peixe etc.
Neste momento estou a sentir o sabor do bolo-de-pé-de-torresmo que era feito com massa de pão e com o apuro dos torresmos que eram guardados em boiões de louça grosseira. Uma delícia, só provando, mas infelizmente o tempo não volta para trás, só na canção...
Mas vamos lá à dita alcatra:
À volta da ilha as receitas variam em alguns procedimentos, variando também em algumas especiarias, mas o básico mantém-se, não havendo casa que não tenha o seu alguidar de alcatra!
Quanto a mim faço como a minha mãe fazia e não me tenho dado mal...

Cá estão os alguidares à espera de serem utilizados e a carne a marinar em vinho de cheiro e sal, há quem use vinho branco mas eu uso o nosso vinho de cheiro, costumo pôr uma mão cheia de sal para cada alcatra e gosto de deixar a carne algumas horas neste preparo para ir embebendo o vinho e tomar o sabor do sal.
Há quem ponha uma parte de água mas eu não ponho porque gosto de pôr um pouco de água quando a aqueço.
Gosto de limpar bem a carne para não ficar gorduroso e uso normalmente carne de alcatra, cachaço, chambão com osso... Aqui na Terceira se for ao talho diz que quer carne para uma alcatra e o talhante serve tudo à maneira.

Agora a preparação dos ingredientes: alho picado, cebola picada, Bacon aos cubos, pimenta da Jamaica em grão e louro.
Barro o alguidar com manteiga e no fundo coloco a pele do bacon, louro, uns grãos de pimenta,depois uma camada de cebola, alho , bacon, uns grãos de pimenta sobre o que ponho uma camada de carne 
, volto a pôr cebola alho Bacon e pimenta e cubro com a restante carne, no fim coloco sobre a carne o vinho com o sal, onde esteve a carne tentando que este se introduza pelos orifícios até ao interior, agora uso o resto da cebola do alho,Bacon, pimenta, louro e uns cubinhos de manteiga.




Cubro com papel metalizado e faço uns buracos com um garfo para a carne cozer melhor. Leva uma três a quatro horas no forno 
muito quente e bem fechado.
Aproveitei e já que tinha o forno quente assei carne e batatas doces.
No forno crepita o fogo até este estar bem quente e cá estão as ditas perfilhadas  à espera de entrarem no forno 















Leva uma três a quatro horas no forno muito  quente e bem fechado.
Quanto ao cheiro e sabor, é melhor não falar, só provando