segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Chapéus há muitos...


A propósito do meu trabalho anterior, em que falo do chapéu de Ana Zamperini, lembrei-me de uma frase, imortalizada pelo actor Vasco Santana no filme "A Canção de Lisboa", uma película a preto e branco com a duração de 1h e 58m. Este filme foi filmado em 1933 tendo sido a 1ª produção sonora integralmente realizada com meios técnicos portugueses.
Numa cena filmada no jardim Zoológico de Lisboa, Vasco Santana proferiu a célebre frase: "Chapéus há muitos, seu palerma!".
Pois é verdade, chapéus há muitos, de vários modelos, de diferentes materiais e para várias finalidades, para proteger do frio ou do calor, para decoração ou para embelezar  e complementar uma tualete, podem ser usados de várias maneiras com mais ou menos galantaria, enterrados na cabeça, para a frente, para trás ou sobre a orelha direita à semelhança do que fazia Ana Zamperini, contudo o que se vem verificando é que desgraçadamente cabeças há poucas, como diz o ditado especialmente em pessoas que ocupam cargos de responsabilidade que mexem com o futuro de muita gente e a minha já foi melhor do que agora, para mal dos meus pecados...

Chapéu à zamparina

Fui a casa de uns amigos e ao chegar disseram-me:
-Estás muito bonita, com o teu chapéu à zamparina!
Fique admirada sem saber se o comentário era elogioso ou depreciativo. Então, decidi investigar o significado e a origem da expressão, pois hão-de chamar-me nomes mas eu ao menos hei-de saber o que querem dizer! Sou assim, curiosa...

À zamparina quer então dizer:

De forma atabalhoada, coisa mal feita, mal amanhada, mas também correspondia, em tempos idos e em linguagem de moda à forma como se usava o chapéu ligeiramente inclinado para a frente, cobrindo um pouco a orelha direita, uma forma inusitada de usar o chapéu nos séculos XVIII e XIX.

E a responsável de tudo isto, quer dizer, desta expressão é a senhora cuja gravura mostro acima que  foi uma muito  famosa cantora de ópera que veio de Veneza para Portugal em 1772, no tempo do Marquês de Pombal Chamada ANNA ZAMPERINI, uma figura muito controversa  que ficou famosa pelos seus dotes artísticos teatrais e musicais, pela sua irreverência, inusitada à época, e pelo seu poder de sedução  que incluía o uso do chapéu inclinado. Parece que Anna Zamperini se enamorou do filho do Marquês de Pombal o qual desagradado com  este romance a mandou atabalhoadamente de volta para a Itália e interrompeu a contratação de mulheres para dançar e ou cantar nos palcos portugueses.
Assim,  e concluindo, passou a chamar-se a forma como se usa o chapéu mas também uma coisa feita de forma atabalhoada isto é a forma como foi feita a expulsão da cantora Anna Zamperini de Portugal.
E por falarmos em chapéus,  quero contar-te que numa tarde soalheira, mas fria, do final de Janeiro, resolvi  ir até à baixa de Lisboa, pus o meu chapéu "à zamparina", que agora já sabemos que é à "Zamperini" e lá fui, Atravessei o Rossio e a praça da Figueira , dirigi-me à rua da Madalena, percorri-a e ao fundo entro na igreja da Madalena, templo resultado de diferentes reconstruções da igreja primitiva  que tinha sido construída em 1150 por ordem de D. Afonso Henriques. Igreja que em 1363 sofreu um incêndio tendo sido reconstruída por D. Fernando voltando a ser destruída em 1600 por um ciclone e em 1755 foi novamente destruída pelo terramoto. D. Maria I mandou-a reconstruir em 1783 e sofreu alterações em 1833. Linda, convidativa à meditação e a pensar nos que tanto trabalharam para que ainda ali esteja a alegrar os nossos olhos e a acalmar os nossos corações.
Vou subindo a rua , encontro a igreja de Santo António construída em 1767 pelo arquitecto Mateus Vicente de Oliveira a mando da irmã do Marquês de Pombal na qualidade de presidente do senado de Lisboa, com dinheiro da coroa e esmolas do povo, onde havia primitivamente um templo Manuelino destruído pelo terramoto de 1755.
Encontro o eléctrico " O 12" repleto de turistas que tiram fotografias ao emblemático bairro e a estes monumentos lindíssimos.
Muitas casa de artesanato, de lembranças e de antiguidades.
E agora a Sé de Lisboa, construída  em 1147 sobre uma antiga mesquita Muçulmana, dedicada a  Santa Maria Maior, abalada por três sismos, no século XV e depois pelo  terramoto de 1755, tendo sido sempre renovada ao longo dos tempos, com uma mistura de estilos, muito bela e convidativa.
E foi assim o meu passeio por Lisboa numa tarde  em que me sentia muito observadora e pensava que o amor pelo passado faz com que valha a pena o Mundo continuar a girar para que  possamos usufruir das belezas que nos foram deixadas pelos nossos antepassados.
Enquanto isso ia pensando, também,  se  Anna Zamperini teria passeado com o seu amado, o filho do marquês de Pombal, por aquelas ruas o que terá sido pouco provável devido ao caos que se vivia na altura com a reconstrução de Lisboa após o terramoto de 1755
Aqui fica este pequeno vídeo " Um passeio por Lisboa"