segunda-feira, 18 de abril de 2016

Considerações sobre o Flautista de Hamelin


No âmbito do plano de desratização que a junta de freguesia se São Pedro de Angra, à semelhança de outras localidades, está a desenvolver, tocam o sino do meu portão e deparo-me com os funcionários que vêm proceder à aplicação do raticida competente. Lá fico eu debruçada de varanda, vendo a operação da distribuição dos saquinhos cor-de rosa, que enchiam grandes recipientes, por mãos devidamente protegidas por luvas apropriadas.
 Eis senão quando, dou por mim a pensar numa lenda alemã, contada pelos irmãos Grimm que nos relatam que, na cidade alemã de Hamelin grassava uma praga de ratos que muito incomodava e assustava a população; Vai daí, apareceu um homem que se ofereceu para eliminar tal praga em troco duma recompensa, uma moeda por cada rato e assim o fez, pegou na sua flauta e de tal sorte tocou que os roedores hipnotizados, pois sabe-se que os ratos podem ser levados à loucura com sons de alta frequência, o seguiram até ao rio Weser,  em cujas margens se situava a cidade, morrendo todos afogados. Acabada a tarefa, voltou o flautista para receber a paga combinada, mas os governantes fizeram-se de esquecidos, e não cumpriram o prometido isto é a paga pelo serviço prestado. Então o flautista irritado, pegou na sua flauta e tocou de novo de tal forma que 130 crianças o seguiram sem que nunca mais se soubesse delas. A cidade, embora com os celeiros cheios e as hortas viçosas, ficou deserta e triste com tal acontecimento.
Isto é o que reza a lenda e o conto, contudo estudos posteriormente efectuados chegam  à conclusão que não eram crianças, mas jovens adolescentes  aborrecidos, desempregados e com sede de aventura ,
 que saíram da cidade, deslocando-se para leste à procura de maior liberdade, mais abundância, trabalho, enfim à procura da sorte. Esta lenda data  do séc. XIII, mais propriamente de 1284 no entanto ao vermos os noticiários actuais, que relatam o drama de milhares de refugiados que saem descontentes das suas terras à procura de vida melhor  e dos jovens portugueses que emigram procurando trabalho que lhes possibilite uma vida digna, concluímos que oito séculos passados não representaram nada, e não foi preciso flautistas nem flautas, bastou somente que alguns governantes e poderosos ambiciosos, gananciosos, se considerassem donos do Mundo para que a situação descambásse até esta situação em que os povos se encontram
Parece-me que a ganância, a falta de escrúpulo, de ética e de respeito é de tal ordem que o que eles querem é que apareça um flautista que toque a sua flauta e leve os pobres, os velhos, as crianças indefesas e os desempregados até aos rios e mares, para assim eles ficarem sozinhos, palitando os dentes, de panças bem cheias, tão cheias como as suas extraordinárias contas bancárias!
Não é que ao chegar a esta conclusão ouço a voz dos homens que dizem:
- Pronto senhora, já acabámos a nossa tarefa, agora vamos esperar para ver se eles gostam do "pitéu", pode fechar o portão, tenha um bom dia!