quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Dia de Pão-por-Deus/ Um dia de Outono


Ontem foi dia de Pão-por-Deus, mas não teve a graça que costuma ter, pois o Outono resolveu mostrar-se na sua plenitude e as crianças não saíram à rua com as suas saquinhas coloridas a bater de porta em porta.
Tiveram receio da chuva e do vento forte intercalados com uma húmida e persistente neblina que inibe até os mais fortes, de saírem de casa.
Também a ida ao cemitério para visitar as campas dos entes queridos foi rápida, sob persistentes bátegas de chuva e ventos fortes que estragavam os arranjos que os familiares tinham feito para homenagear a lembrança dos que já partiram.
Tinha preparado, como habitualmente, moedas para receber a criançada mas, como não apareceram, pus-me a pensar na coicidência do dia em que celebramos os Santos e que antecede o dia dos fieis defuntos que partiram para uma nova vida, conforme os católicos acreditam,  parecer ser um dia de viragem no ciclo anual,  com ventos, chuva e frio com vista a um outro ciclo, uma outra vida, uma nova estação verde e efervescente.
O Outono, como a vida das pessoas é uma época de viragem, a natureza torna-se acastanhada e se observamos com atenção, deparamos-nos com cores surpreendentes como o amarelo que nos traz à memória tarte de limão, os dourados do sol, rubis e carmesins e todos os castanhos quentes que lembram o couro usado. Segundo li há muito tempo,essas cores devem-se ao facto de as árvores cansadas, não permitirem uma correcta circulação da seiva e as folhas deixarem de produzir clorofila, aparecendo assim pigmentos amarelos; Deste modo, as folhas acabam por cair e restolham pelo chão como um tapete bordado por mãos de fada, a fada natureza, os ouriços arreganham as bocas deixando cair as castanhas  que estalam sob os nossos pés, se as pisamos.
Esta é uma altura do ano mágica em que a natureza, numa terra como a nossa que tem a vantagem de viver quatro estações, hiberna, descansa, suspira e sonha  um pouco, esperando pelo mês de Maio.
Os prenuncios do Inverno já se escrevem à nossa volta, vem aí o S. Martinho, o vento arrasta as sementes das plantas, as folhas caem cobrem o solo e as sementes espalham -se pelo meio delas a fim de ganharem raízes para o ano seguinte; foi a morte que origina a vida!
Afinal o dia que celebrou os Santos seguido do dia que lembra os nossos defuntos celebra a vida, uma vida, uma lembrança que permanece nos nossos corações e nas nossas memórias...