quarta-feira, 30 de abril de 2014


Depois da Páscoa, nos Açores:

Logo depois da Páscoa,
Nos Açores,
O arquipélago é um altar
E cada ilha é uma mesa
Para o  Espírito Santo louvar,
São cortejos para a igreja
Onde o imperador vai coroar,
E depois a mesa posta
Numa fartura sem par...
Massa doce, carne 
E  esculturas de alfenim,
Muito pão
Em arrendados açafates,
Vinho a borbulhar
No canjirão,
E copos enfeitados
De alvos e doces confeitos.
É o povo ilhéu
Religioso e  profano
Na sua fé,
Crente e  festeiro,
O terço rezando,
Com  muito fervor,
Numa sentida prece, 
Num hino, num louvor  
Ao Divino Espírito Santo!
Então, no sétimo domingo,
No terreiro do local,
É o culminar
Da abundância e da partilha,
É a terceira pessoa louvar...
Em cada casa, em cada ilha!


 Clara Faria da Rosa 
30/04/2014

segunda-feira, 28 de abril de 2014

No Dia Mundial do Sorriso



Eu quero sorrir...

Eu quero sorrir
Para ti,
Minha amiga de verdade,
E para ti também,
Para quem sou indiferente.
Eu quero sorrir
Para os que sofrem
Terríveis e cruéis doenças, 
Do corpo, do coração ou da mente
Ou de saudade de alguém. 
Eu quero sorrir
Ao vento
Para que espalhe uma mensagem
De  alegria e esperança
E que na aragem te traga
Paz, trabalho e muito amor.
Eu quero sorrir
Ao Sol
Para que a todos aqueça
E que da terra faça brotar
Muito verde, muita cor.
Eu quero sorrir
Ao mar
Para que a espuma das ondas
Espalhe muita ternura
E apague a amargura
Dos desamparados e pobres.
Eu quero sorrir, sorrir, sorrir...
Até meus lábios gelarem,
Até meus olhos não verem,
Os indiferentes e inimigos,
Os familiares e amigos,
O vento, o sol e a espuma do mar
E os pássaros a chilrear.
Eu quero sorrir, sorrir, sorrir...
Para sempre!

sábado, 26 de abril de 2014

Telhal dos Altares / tradição e rusticidade

Ontem fui, com meu marido, ao telhal dos Altares que fica na canada do Laranjo na dita freguesia dos Altares, ilha Terceira, Açores,  propriedade do Senhor Braulio Cunha, comprar material refractário para um forno. Quando lá chegámos pareceu-nos que o tempo parara aí há um século atrás ou mais. Muita sabedoria adquirida e preservada, tudo muito rudimentar tudo muito artesanal mas muito bem pensado e que funciona muito bem...
Olho à minha volta e decido que te hei-de dar conta do que lá se passa, é por isso que penso que quem lê ou escreve nunca está sozinho, ou bebe as palavras dos outros ou pensa no que há-de dizer aos outros. Contudo, o telhal dos Altares é um lugar tão peculiar, tão fora do comum que não pode ser descrito por palavras vulgares, como as que utilizo, só uma visita ao local te pode dar ideia da tradicional rusticidade que lá se vive então, ao ires lá,  darás conta do que aqui não consegui dizer.

                   









                             


quinta-feira, 24 de abril de 2014

25 abril

No 40º aniversário da revolução de Abril

Neste dia e atendendo à conjuntura social e económica que o nosso país está a atravessar quero citar um célebre economista norte-americano Arthur F. Burns :
"Aquele que se diz capaz de endireitar a economia de um país, não sabe do que está a falar!"
Burns,  falava de um modo geral, imagine-se se ele se referisse a Portugal o que diria!!!
Só peço a Deus que nos ajude a sair desta situação em que vivemos para  que o nosso país continue suficientemente livre de modo a que os nossos governantes possam, examinando tranquilamente a sua consciência, se a tiverem, ser capazes de endireitar a nossa economia, antes de morrerem todos  e nós tenhamos, futuramente, um país onde vale a pena continuar a viver, e uma nação a invejar! 

sábado, 19 de abril de 2014

Páscoa

Olhar de Páscoa


 Olho as pessoas 
 e nelas vejo a Páscoa...
 No brilho dos seus olhares,
 No sorriso dos seus lábios,
 No cumprir dos seus deveres,
 No ajudar os seus amigos.
 Olho à minha volta
 e vejo a Páscoa...
 Na  Primavera a despontar,
No colorido das flores,
 Na  Natureza a pintar
A vida de todas as cores.
Olho para dentro 
e em mim vejo a Páscoa...
Com  uma vontade forte
De o grande mistério anunciar,
Da vitória sobre a morte
E de a vida celebrar.
Penso na vida 
e sinto a Páscoa
Como um mágico segredo
Que não consigo guardar
E anuncio sem medo
É um milagre, ressuscitar!


Clara Faria da Rosa

sexta-feira, 18 de abril de 2014

O Inexprimível:

Penso ser este o dia próprio para me referir a este missal do início do século XIX, feito em Pariz, na antiga casa Morizot, Laplace, Sanchez e Cª Editores. É um belíssimo exemplar, cuja capa dura e com relevos ilustra o acontecimento que hoje celebramos, tem folhas douradas e dois fechos trabalhados, estando em muito bom estado para uma peça com mais de 200 anos. 
E, como depois  das palavras o silêncio é o melhor que consegue exprimir o inexprimível, recolha-mo-nos com esta imagem,com a mensagem que este livro nos transmite, com a nossa consciência e com a nossa fé.
Que Cristo ressuscite nos nossos corações...
Boa Páscoa! 








quinta-feira, 17 de abril de 2014

Sexta Feira Santa


Na paixão de Nosso Senhor Jesus Christo, S. João relata-nos que tendo Pilatos dito aos Judeus:
-Eis aqui o vosso rei. 
Porem eles clamavam: Tira, tira lá: crucifica-o.
Pilatos replicou: Hei-de crucificar o vosso rei?
 E responderam os pontífices : não temos rei, senão César!
Então pois Lho entregou para ser crucificado e, com effeito recebendo a Jesus o conduziram e Elle levando a sua Cruz, se encaminhou para o logar denominado Calvário, em Hebreo Golgõtha, onde o crucificaram e com Elle outros dous, de uma e outra parte, ficando Jesus no meio...................................................
Junto à Cruz de Jesus estavam sua Mãe  e a irmã d'ella Maria de Cléofas e Maria Magdalena. Jesus pois vendo a Mãe e o Discípulo por Elle amado, que também ali estava, disse a sua Mãe:
Mulher, eis-ahi o teu filho e depois disse ao Discípulo: Eis ahi a tua Mãe e d'aquella hora o Discipulo a levou consigo. Depois sabendo Jesus que tudo estava completo, para se cumprir a Escriptura, disse: Tenho sede. 
Havia-se ali posto um vaso cheio de vinagre, donde aquelles ensopando uma esponja e envolvendo com o bisope lh'a apresentaram á bocca. E Jesus, provando o vinagre, disse:
Está consummado e enclinando a cabeça, entregou o espírito.
 Para ilustrar o que acima te transcrevo em vernáculo (puro, genuíno, correcto, próprio da época) do evangelista  São João, mostro-te   estas  imagens, muito antigas do Senhor dos Passos e de sua Mãe Nossa Senhora das Dores

Ceia Grande / Sopas Fritas e Chá

Quando eu era criança não havia essa história de pequeno almoço, as refeições eram "orquestradas" pelos horários dos trabalhos rurais e assim logo que os homens vinham de tratar do gado, pela manhã, almoçava-se, pelo meio dia ou um pouco mais tarde jantava-se e após a labuta diária era a hora de cear, rezar o terço, à volta da mesa da cozinha e cama que o dia de trabalho tinha sido duro.
É aqui que eu quero chegar, a uma ceia especial, na  Quinta Feira Santa dia em que se comemora a última refeição que de acordo com os cristãos, jesus dividiu com os apóstolos em Jerusalém, antes da sua crucificação, neste dia  Jesus lavou os pés aos discípulos dando-lhes um novo mandamento" amai os outros como eu vos amei!".
 Pois neste dia, em minha casa, depois de virmos da igreja, da cerimónia do lava pés, em cima da mesa havia uma grande travessa, muito bem abafada de sopas fritas. Sim, sopas fritas, não era rabanadas, nem fatias douradas que isso já são derivações culinárias dos tempos actuais...As sopas fritas eram fatias de pão caseiro envolvidas ou, melhor dizendo, envoltas, num polme feito com ovos, leite, farinha e açúcar,  fritas em banha de porco que era o que a minha mãe tinha e polvilhadas com açúcar e canela, em boa verdade, nessa altura, ainda não se tinha descoberto o colesterol...
Pois, como ia dizendo, havia a dita travessa, muito bem abafada e um bule de chá muito amarelinho e quentinho que nos aquecia  a alma e o coração. Era uma delícia! Era a Ceia Grande!
O bule ainda o tenho e as chávenas também, são uma relíquia da fábrica Lusitânia, agora as sopas fritas só na memória e na saudade.
Com isto tudo ponho-me a pensar que a vida de cada pessoa  implica isto é entrosa com  a vida de todos os homens, cada história é apenas um  fragmento de outra história - A grande história da humanidade! E, esta história  da ceia grande, que era um acontecimento anual na minha família , tem a ver com o nascimento, vida e morte de um homem, Jesus Cristo, que marcou e marca de uma forma especial a vida da humanidade.

domingo, 13 de abril de 2014

Procissão de Ramos

Domingo de Ramos na paroquial de São Pedro de Angra




Fui à Missa à igreja de São Pedro de Angra, esta estava decorada com ramos verdes que lembravam o simbolismo do dia...
O sacerdote,  chegou em procissão com muitos fieis que transportavam ramos e cestas repletas de ramos abençoados, que iam sendo distribuídos pelos fieis para os levarem para casa e os guardarem durante o ano.


Isto tudo numa clara alusão à entrada de Jesus Cristo em Jerusalém, para celebrar a Páscoa Judaica, montado num jumento e aclamado pela população como o Messias.
Esta festa litúrgica  abre a Semana Santa ou semana maior que termina com o Domingo de Páscoa e a celebração da ressurreição de Jesus Cristo, depois de ter sido crucificado.
Também trouxe um ramo para casa e lembrei-me da minha mãe que guardava o ramo, depois de seco, detrás de um quadro, para manter a casa abençoada, como ela dizia, 
 O meu ramo abençoado, fica agora a secar. Depois como em muitos actos da minha vida, vou seguir o exemplo de minha mãe e guardá-lo até ao ano que vem, acredito que ele abençoará a minha casa e a minha família.

Dia de Ramos/Dia de Grãos


  Quando prepara o almoço de hoje, lembrei-me de minha mãe que dizia que dia de ramos é dia de grãos porque não se devem comer ramos, isto é folhas de hortaliças neste dia, isto numa clara alusão aos ramos que aclamaram Jesus ao entrar em Jerusalém.
 Por isso comíamos, nesse dia, canja com arroz,ervilhas,milho cozido, papas de arroz que eram " primas" do arroz doce, como dizia a minha mãe, porque eram feitas com menos ingredientes, feijão, papas grossas  e sopa de grão que  o meu pai chamava gravanço e eu pensava que ele, por ser iletrado, estava a dizer mal e só mais tarde fiquei a saber que a palavra que ele usava era um aportuguesamento de "grabanzo" da vizinha Espanha. Afinal ele sabia muito mais do que eu que passava os dias na escola, enquanto ele labutava de sol a sol...
Ainda  mantenho esses hábitos porque afinal há tantos dias para comermos as outras coisas que não custa nada cultivar esta tradição que não sei se é só da minha família ou se mais alguém tinha este hábito, mas que para mim tem um sabor e um sentido muito peculiar.
Pelo que te contei penso que te será fácil adivinhar ou calcular de que constou o nosso almoço de hoje, Dia de Ramos / Dia de Grãos! 



Dia internacional do beijo







Beijo é o toque dos lábios em ou com qualquer coisa, normalmente numa pessoa.
No Ocidente, o beijo, é considerado um gesto de afeição. Entre amigos é utilizado como despedida e ou cumprimento. Um beijo dado na boca de outra pessoa é um símbolo de afeição romântica e tem, quase sempre, conotação sexual. O beijo pode ser um sinal de reverência, por exemplo quando beijamos o anel do papa ou do bispo.
Quando eu era criança, ensinaram-me a beijar a mão dos familiares mais velhos, pais, padrinhos, avós e tios e a pedir-lhes a bênção
Neste dia internacional do beijo abri esta página para te deixar um beijinho , sincero e respeitoso e beijar, com reverência, as mãos dos meus pais  e outros antepassados, onde quer que estejam, por tudo o que  foram e representaram para  mim! 
Um beijinho da Clara!!!

domingo, 6 de abril de 2014

Se a tristeza fosse...

Se a tristeza fosse uma flor... 
Teria  as pétalas caídas,
A olhar a terra escura,
Esquecendo a frescura,
Que nos trazem nossos dias.
Se a tristeza fosse o mar...
Seria negra, revolta, escura,
Beijaria com força as rochas, 
Esmagando altas ondas,
Uivando com amargura.
Se a tristeza fosse lágrima...
seria viscosa, grossa, pesada,
Correria lenta e sem vontade,
Denunciando toda a maldade,
Que a faz correr agoniada.
Se a tristeza fosse a noite...
Duraria eternamente,
Sem deixar o sol sorrir,
Nem a maldade partir,
Num escuro permanente.
Mas...
A tristeza não é noite, nem flor,
Não é lágrima, nem é mar,
É muitas vezes grande dor...
Que nos vem de muito amar!

Clara Faria da  Rosa

sábado, 5 de abril de 2014

Tentações...


A tarde estava boa se  comparada com a manhã, saio à rua e olho para as nespereiras e para os respectivos frutos mas de uma forma indolente e desprendida, aconteceu então que um anjo bom me tocou no ombro e disse:
- Então Clara, e se aproveitasses os frutos para fazer uma compota?
Logo um anjo mau me cutucou o outro ombro dizendo:
- Deixa-te disso, este ano os frutos são muito miúdos , talvez por não ter chovido na época própria e têm má apresentação devido aos ventos fortes.
o anjo bom insistia:
- Não sejas preguiçosa, podes muito bem aproveitar alguns e tirar as partes más.
O anjo mau não desistia:
- Vai mas é descansar ou passear e deixa os frutos para os pássaros, para que vais fazer compota que só faz mal?
Então o anjo bom insistia novamente:
- Podes aproveitar alguns frutos que ainda ficam muitos para os pássaros  e  ficas com abundância  para rechear alguma torta ou bolo, acompanhar umas torradinhas ou então oferecer a alguém... 
Foi uma luta terrível, mas  o anjo bom venceu e lá fui munida de um cesto apanhar nêsperas e depois arranjá-las, levei um bom bocado e fiquei com as mãos e unhas com muito má apresentação.


  Lá foram as desgraçadas para a panela levando bastante tempo a fazer o ponto porque nestas coisas de doces sou um pouco aldrabona e nunca junto o açúcar recomendado por lei.
No fim, pressenti que o anjo bom se regozijava com a minha atitude e com o facto de eu, que sou um pouco preguiçosa, ter conseguido levar avante o meu projecto. 




sexta-feira, 4 de abril de 2014

Já lá vão cinco anos!

Já se passaram faz hoje cinco anos que partiu a minha amiga Bélia Barcelos Cota  e não a esqueci.
Lembro-me de lhe dizer muitas vezes que gostava de saber passar o tempo como ela, com a mesma força, a mesma inteligência, a mesma curiosidade e a mesma elegância. Sim, porque a Dona Bélia, como eu lhe chamava , apesar de sermos muito amigas,  era uma anciã,  ( palavra que por definição significa pessoa velha e veneranda), mas era mais nova do que muitos jovens, arranjava-se com elegância, recebia os amigos sempre com muita alegria, era uma pessoa que lia muito, por isso informada e actualizada, corajosa e que tinha sonhos e projectos... Que viveu como eu gostaria de viver mas que morreu de uma forma imerecida, cruel, que quero esquecer! Agora percebem porque sinto muito a falta desta amiga e não a esqueço .
Pois é, a amizade é isto mesmo, recordações, alegrias e tristezas, preocupações, ajuda e conforto ou desconforto mas  é um sentimento gratificante que nos enriquece, engrandece, purifica e nos une para além da vida,  pelo que nunca vou esquecer a minha querida amiga Bélia Barcelos Cota!

quinta-feira, 3 de abril de 2014

Peças vintage










Hoje, ao descascar e picar cebola para  preparar o almoço,  os  meus olhos lacrimejando  olhavam  para a casca amarelada e brilhante da cebola fazendo-me  lembrar de um vidro que adoro.
O vidro casca de cebola  que é muito procurado por coleccionadores e  apresenta-se em  lindíssimas peças vintage  como cachepots, garrafas,  jarras e conjuntos para água e vinho. No início do século passado, talvez na década dos anos vinte, o vidro branco transparente era tratado quimicamente de  modo a adquirir o tom da casca de cebola que depois podia ser gravado ou tratado com  jactos de areia que lhe conferiam artísticos desenhos.
Tenho uma pequena colecção de peças deste vidro que conservo religiosamente porque elas me lembram o passado  tranquilo,  tornando-o em simultâneo presente e  permanente.
 Elas dão-nos um toque de eternidade porque indiferentes ao passar dos anos, às modas, tempestades e convulsões do presente conservam a sua calma e dignidade e desafiam  os espíritos conturbados que não valorizam o requinte do pormenor.

Dedico este pequeno apontamento à Maria João que diz apreciar o que escrevo. Um grato beijinho.

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Sonhar acordada





Sempre achei que sonhar acordada não faz mal a ninguém. Aliás, sou muito de sonhar acordada, o pior é quando acordo e dou por mim com a realidade nua e crua! A  maioria dos meus sonhos são de carácter remoto, difíceis de realizar:
Ora sonho fazer um cruzeiro à volta do mundo, vendo-me sentada no convés  do navio,tomando um delicioso refresco, protegida por um lindo e elegante chapéu de grandes abas, ora sonho publicar  um livro de memórias, caindo depois na realidade e concluindo que não tenho nada de relevante para contar e ninguém estaria interessada no que eu eventualmente contasse. No entanto, a força do hábito é um mal de difícil cura e hoje voltei a sonhar acordada, sentada à mesa, à hora do almoço.
Tendo homens de trabalho para almoçar, resolvi logo pela manhã, fazer uma suculenta  sopa e um arroz que acompanharia torresmos, comprados na  Salsicharia Pavão, que fica aqui perto.
O problema foram os torresmos todos XPTO, como diz o meu filho, muito bem acondicionados numa caixa de plástico rectangular.
Antigamente, sonho eu, no dia da matança do porco era uma alegria, e no outro dia uma abundância de torresmos em grandes pratos de barro que a minha mãe acondicionava nas gordureiras e cobria com banha fervente e borbulhante e como não havia frigoríficos nem arcas congeladoras a carne era acondicionada e salgada  em grandes salgadeiras  e assim tínhamos carne para todo o ano. A minha mãe separava as partes do porco conforme a finalidade que lhe ia dar, assim como os torresmos uns para o Carnaval outros para o Natal etc. etc. etc. E que bem que sabiam e que delicioso cheiro se desprendia  do negro panelão de ferro que derretia as carnes para os torresmos!
- Então não se come- diz o meu marido - e lá acordo eu do meu sonho e almoçamos porque homens que trabalham duro têm sempre fome!
A verdade é que o meu nostálgico sonho tem uma certa razão de ser é que vivemos num tempo de muitos saberes, muitas evoluções, muito racionalismo mas de sentir pouco. Na história  da matança do porco, de que te acabo de contar um pequeno pormenor, há paz , segurança e tranquilidade e até mesmo, quanto a mim,  uma certa dimensão espiritual.