domingo, 23 de março de 2014

Para o amor não há tempo, nem espaço nem fronteiras

Esta é uma fotografia de que gosto muito, é para mim uma relíquia! Foi tirada em Setembro de 1948 e mostra a minha família materna, os meus tios e tias , a minha mãe atrás e o meu pai à esquerda junto dela, os meus avós estão sentados ladeados por um irmão do meu avô que tinha uma deficiência física e não constituindo família, ficou sempre com eles. Estão todos de fatos "Domingueiro" porque foi tirada em dia de festa, dia da procissão de São José em Santa Luzia da Praia da Vitória e com ar "ensaboado pela saúde" que na altura todos tinham, até os meus avós, apesar de serem mais velhos.
Ah, o que ela me conta e o que simboliza para mim que tenho um obstinado feitio de escarafunchar no fundo dos anos, daria para um romance!
Após este dia, já se passaram sessenta e cinco anos, outra geração chegou da qual eu sou a mais velha  e os meus avós partiram, depois os meus tios e pais, ficando a mais nova , a minha tia Juvolina que na foto está muito gira  de bandós, à moda da época,  entre dois irmãos e que  emigrou para a Califórnia com a família para dar um futuro melhor aos filhos e também com medo de o filho mais velho ir para a Guerra do Ultramar como então se dizia.
Por lá fizeram a sua vida e muito bem , criaram os seus filhos sempre tendo em conta os valores que orientaram a vida dos nossos antepassados e tendo sempre no pensamento e no coração a família e a terra açoriana.
Eu tinha uma ligação muito especial com esta tia que, por ser a única que restava representava, para mim, toda a família, era quase como a minha mãe! Contudo, chegou o dia da sua partida, já há um ano, fez no passado dia 20, que se foi juntar a todos desta foto. Ficou completo o ramalhete e ficou também uma grande falta e uma grande saudade!
Mas o amor não envelhece nem morre como o corpo, para o amor não há tempo, nem espaço nem fronteiras, por isso sei que ela continua a amar e a velar pela  família e sabe que  todos a amaram e nunca a esquecerão.


   

Eu era rica e não sabia!!!

A minha prima Virgínia telefonou-me. Ela reside na Califórnia e costumamos ter longas conversas que estreitam os nossos laços de sangue e de amizade. Falou-me da vontade que tem em redescobrir receitas da cozinha mariense pois a sua família paterna é de lá. Então a propósito pergunta-me o que é uma maquia.
Nesse momento o meu pensamento leva-me à minha infância, vejo o meu pai a semear o trigo e o milho,vejo estes cereais crescerem, o dia de ceifar o trigo e as desfolhadas que se faziam no nosso quintal, ouço o chiar do carro de bois carregadinho de molhos de trigo a caminho da debulhadora  e vejo  sacos de trigo, como os da 

foto,

empilhados a um canto donde a minha mãe ia tirando o suficiente, que media nas "rasoiras ou maquias " cuja foto mostro,


 para o moleiro levar e transformar em farinha, ficando o sobejante para a sementeira do ano seguinte.



Lembro a minha mãe toda empoada peneirando a farinha

para fazer o pão que amassava, de mangas arregaçadas, em alguidares de barro sobre rodelas de trabalho louco, que fazia aos domingos , sentada no canto do estrado da avó e lembro o cheiro do pão quentinho ao sair do forno, que a minha mãe abafava  com os abafadores, também feitos por ela, para que o pão ficasse muito maciinho, como  dizia .
Então dou por mim a pensar:
- que infância feliz eu tive!
Não sabia o que era pão de forma, nem pão bimbo , nem padeiros nem padarias, nem pastelarias mas sabia que podia contar com o trabalho e o amor dos meus pais que não estavam preocupados com a inflação nem com a descida dos ordenados  nem com os impostos, mas sim com o seu trabalho pois sabiam que se tivessem saúde, pão não nos faltaria na nossa mesa...
Eu era rica e não sabia!