domingo, 23 de maio de 2021

 

Em dia de Bodo:



O vestido  tristonho
Este foi o título do texto escrito há um ano atrás este ano acrescento um subtítulo:
- O vestido continua tristonho!

Em tempos idos, quando eu era jovem, as pessoas preparavam-se para  este dia em termos de indumentárias, os homens usavam o seu fato escuro e punham gravata e as mulheres faziam novas toaletes, conforme ditava a moda da altura e lá iam em alas acompanhando o imperador para a igreja cujo altar-mor ficava parecendo um coro celestial com as crianças da "briança"  todas de branco. Assistia-se à missa  que culminava com  a coroação acompanhada  do  Veni Criator Spiritus,  por entre uma nuvem de incenso queimado no  turibulo,  que balouçava na mão do sacristão. 
Era então a altura de se formarem novas alas e de se dirigirem para o império e despensa para aguardar a distribuição do bodo: pão, em grandes cestos de vimes e vinho para quem lá estivesse quer residentes quer forasteiros
O meu conterrâneo e amigo José Eduardo Espínola diz que, segundo reza a história, "em dia de bodo os bêbados não se imbobedam"
Nas varandas, as raparigas exibiam as suas roupas novas e namoriscavam os rapazes que, do terreiro, lhes atiravam confeitos para  chamar  a atenção e eu, pobre de mim, fazia parte deste grupo, contudo um pouco triste porque, tínhamos estado a ultimar as roupas das clientes até à última hora e,  usava roupa desatualizada e sem graça, não houvera tempo de reformar o meu guarda-roupa!
Passaram-se muitos anos, na minha última viagem a Lisboa vi um vestido que entendi  ser indicado para a minha idade, para o meu corpo e para a minha carteira e comprei-o pensando com os meus botões:
- Vai servir para usar no dia do Bodo e em algumas festas de Verão!
Passaram-se  os meses, veio esta pandemia e tudo mudou: 
- Quando eu era jovem e  havia bodos e festas na ilha Terceira eu não tinha roupa nova para usar e agora que tenho roupa nova para usar não há bodos nem festas - o que é um mal menor perante tanta tristeza que vai por esse mundo fora!
Então, na falta de oportunidade de usar o dito e pensando que vai ficar desatualizado, aqui vai ele, dou-lhe esta oportunidade de aparecer, pela segunda vez, tristonho, tristonho, como a sua dona, por não ter ocasião de arejar, de dar à perna, de se divertir... 
A vida tem destas coisas!









 Em dia de bodo - Na ilha Terceira, Açores

Como as pessoas não podem ir ao bodo, devido à situação que bem conhecemos, o bodo vai até às pessoas, deste modo, numa louvável iniciativa da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo, hoje, à semelhança do ano anterior, o bodo vai até às pessoas e assim haverá um cheirinho desta tradição de partilha em todas as casas da ilha. Claro que as Bicas de Cabo Verde, um pequeno lugar da freguesia de São Pedro de Angra do Heroísmo , não foram exceção, assim, lá vão os mordomos da festa, que este ano não se realiza, fazer a distribuição de pão e vinho, depois de benzido pelo pároco da freguesia, cónego Jacinto Bento, pelas casa do lugar, colaborando com a autarquia.

Que o Senhor espírito Santo seja louvado, que estenda as suas bênçãos sobre todos e que permita que para o próximo ano as coisas sejam diferentes.