quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Eu até rezava, à noite, as minhas orações!!!


Eu até rezava, à noite, as minhas orações...

Era dia de procissão em Santa Luzia da Praia da Vitória, depois do jantar a minha avó vestia a sua casaca de brocado preto e a sua saia castanha, ajeitava o seu pelo com ganchos de osso e alisava bem o cabelo que prendia com bonitas travessas, punha a sua sombrinha no braço, pegava no missal e no seu terço e lá me levava a reboque para a missa - de - festa e sermão.
Era um martírio para mim, porque a avó era do tempo em que não havia carros e, por isso, tinha tendência para andar no meio da estrada e eu tinha que estar continuamente a puxá-la para a berma da estrada pois os carros dos americanos da base da lajes, ali ao pé, quase no quintal, ferviam!
Na igreja era só gente de idade e adultos, as roupas cheiravam a naftalina e eu , aos pés da minha avó, sentada no pequeno banquinho de ajoelhar, olhava para o púlpito, para os torneados de madeira com uns anjinhos todos pretos, até as asas, e para o pregador, atónita sem perceber nada, mas pareceu-me, a certa altura, perceber que ele ameaçava os presentes! Mas porquê se eu até fazia tudo o que me mandavam e rezava à noite as minhas orações?- Avó, ele está zangado comigo?
-Cala-te rapariga, isto não são assuntos para ti!!!
-Vão-se lá entender os adultos...

Figos pretos e pudim boca-doce

Figos pretos e pudim boca - doce

Hoje tenho andado nostálgica.
É dia de festa, dia de procissão, em Santa Luzia da Praia da Vitória, terra natal da minha família materna, e não me canso de lembrar que sendo filha única gostava muito de
 ir para casa da minha avó para brincar com os meus primos que viviam uns em casa dela, outros nos arredores e de lembrar também o que se vivia neste dia.
Nas vésperas eu ia com a minha avó ao pomar, untar os figos da enorme e centenária figueira e lá ficavam eles a apanhar sol, esperando o dia de serem apreciados.
A minha tia Juvolina que vivia com a sua família em casa da minha avó, comprava na loja do Ratinho pudins boca-doce de variadas cores e sabores e, porque à altura não havia formas de alumínio, usava uma lata grande de conserva de frutas, frutas encanadas, como então se dizia, trazidas pelos americanos e lá punha os pudins às camadas, metendo a lata num cesto de vimes que pendurava pela asa com uma corda na cisterna, para se manter fresquinho, era o frigorífico daquele tempo!
No dia da procissão o meio da casa tinha as cómodas enfeitadas com jarras antigas cheias de flores rústicas que a minha tia apanhava à volta de casa e uma grande mesa coberta com uma alva toalha de linho, de dois panos, como a minha mãe dizia, porque tinha uma costura ao meio devido ao tear não fazer panos tão largos que cobrissem a mesa.
Vinha a família dos arredores, juncal, Canada dos Pastos, Fontinhas e sentáva-mo-nos todos a saborear a sopa de carne e o cozido feitos pela minha avó que era especialista, era mestra de funções. depois era altura de se porem na mesa grandes pratadas de figos reluzentes que desapareciam como que por magia.
Mas o que eu esperava com impaciência, era pelo pudim boca-doce! Ainda me lembro da sensação de estar a olhar para ele enquanto a minha tia o punha ma mesa, firme, brilhante, colorido, apetitoso... e do êxtase que sentia enquanto a minha tia o repartia por pequenos pratos antigos da minha avó.
Esta história pode parecer ridícula, mas não nos podemos esquecer que naquela época, não se usavam as natas, as gelatinas, o leite condensado e quejandos e que não se faziam muitas sobremesas, só em dias muito especiais!
Infelizmente já nada disto existe, mas o meu coração permanece lá.
Sinto-me contente, por poder partilhar contigo esta história, esta vivência , este fragmento do meu passado assim como a fotografia da minha avó com alguns dos seus netos,

Convívio da amigas

Foi uma tarde calma, ensolarada, entusiasmante e ternurenta.
Uma tarde de encontros de antigas alunas com uma ex colega que tendo saído de cá, regressou de férias, a Odete Laureano.
Doze mulheres a falarem da sua juventude, da escola comum a todas, a antiga Escola Industrial e Comercial de Angra do Heroísmo, dos seus sonhos alguns dos quais ficaram pelo caminho, dos seus objectivos atingidos, das suas famílias, todas irmanadas pela mesma gratidão a uma escola que as fez crescer como pessoas e que lhes alimentou o espírito em direcção ao saber ser tendo sempre em vista o saber fazer.
Sinto-me feliz por ter tido a sorte e a oportunidade de frequentar uma escola com o currículo que a Escola Industrial e Comercial apresentava e ter tido os professores que tive; Lá adquiri competências para a minha futura profissão mas sobretudo para a vida !
Tive a sorte de frequentar uma escola que funcionava num lindíssimo palacete e isso de certa forma em complemento do que acima menciono, marcou-me em direcção ao belo arquitectónico pois nada na minha casa rural e simples jamais me indicaria que existissem construções tão belas e requintadas ...
Lembro-me de em momentos de distracção dar por mim em plena aula a olhar para os relevos e pinturas da sala e pensar: - Que vida chique e faustosa viveram os antigos possuidores deste palacete!
Fui muito feliz naquela escola,que me ajudou a ser o que sou e como sou, com aquelas amigas que me ficaram para a vida e fui muito feliz nesta tarde calma, ensolarada, ternurenta, de convívio e de boas-vindas à nossa ex-colega Odete Laureano!


















Já chega!!!

Já Chega!!!
Quando tinha a idade que apresento nesta foto, era uma jovem tímida , calada, pensada, assertiva, corava com facilidade, não era mandona e penso que não ofendia propositadamente ninguém. Mas não era desadaptada nem agressiva e gostava de socializar e de fazer amigos que felizmente tinha, alguns dos quais mantive pela vida fora!
Não estou a dizer que era um anjo ou uma santa, não, tinha as minhas falhas, como todas as pessoas, especialmente sendo jovem e inexperiente mas também tinha uma mãe que me estava sempre a dizer o que era bom e mau, o que ficava mal a uma senhora, o que não devia dizer e um pai que me aconselhava a ouvir os outros que, dizia ele, sabiam mais do que eu...
Ainda hoje, com esta proveta idade e tendo certa opinião formada sobre um assunto, não gosto de fingir certezas absolutas que não tenho. Por isso, não tenho "a certeza de estar certa" no raciocínio que abaixo formulo e que vem a propósito de ter presenciado um dia destes um facto que me pôs a pensar nas diferenças de gerações:
Ia eu atravessando a praça que fica em frente à escola Jerónimo Emiliano de Andrade, antigo Liceu, quando vejo um grupo de jovens, de ambos os sexos, que conversavam animadamente. Achei graça, pois um bom convívio é sempre salutar contudo, depressa fiquei desalentada e estupefacta pois o tipo de conversa de vocabulário de agressividade era de tal modo grosseiro e impróprio e de certa forma intimo que me fez voltar ao passado . Nunca disse nem nunca vi nem ouvi amigas minhas terem tais conversas, tal palavreado e tais atitudes em frente aos nossos colegas rapazes.
Gente bem alimentada, bem vestida em frente a uma boa escola com professores que, tenho a certeza fazem o seu melhor...
Na verdade e pensando bem, talvez não sejam verdadeiramente culpados pois na actualidade a privacidade deixou de existir, com as celebridades falando de tudo em público desde a sua vida sexual, de gravidezes fora dos casamentos ilegítimos, posando para revistas em ambientes faustosos que não são os seus, fazendo acusações a uns e a outros e em alguns casos com uma falta de decoro e um palavreado de bradar aos céus.
Que fazer perante tais exemplos de pessoas que em muitas casos a juventude admira e idolatra???
Portanto é caso para se dizer:
- Chega!!!
-Precisamos é de pessoas que saibam ouvir em vez de se porem em bicos de pés para serem ouvidas, pessoas que valorizem a privacidade de actos e palavras e sobretudo que sejam mais selectivos nelas!!!