terça-feira, 24 de abril de 2018


Sopas do Espírito Santo:
As sopas do Espírito Santo
Na nossa ilha Terceira
Têm Um sabor de Primeira
Ai, eu gosto tanto, tanto!
As sopas do Espírito Santo
Na nossa ilha Terceira
Têm o sabor da ilha inteira
Ai, elas são um espanto!
As sopas do Espírito Santo
Em casa do Victor Carreiro
Regadas com vinho de cheiro
Ai, sabiam a fé e encanto!
As sopas do Espírito Santo
Tinham um sabor apurado
Ai, a lava, maresia e prado,
Promessa, devoção e preito!
Clara Faria da Rosa,
Abril/2016

sábado, 21 de abril de 2018

As mãos do amor
Olho as minhas mãos e vejo-as:
Grosseiras, ásperas, cansadas,
Olho as minhas unhas e vejo-as:
Baças, rombas, maltratadas...
Tento escondê-las e penso:
-Onde estão aquelas mãos
Finas, esguias e lindas
E aquelas brilhantes unhas
Rosadas e bem-tratadas?
-Aquelas mãos de menina,
Meu orgulho, meu tesouro,
Aquelas unhas de ouro...
Tudo isso já se foi,
Tudo isso é passado.
Aquelas mãos de então,
já muito, muito, amaram,
já muita massa amassaram,
já muita sopa prepararam,
Já muita mesa puseram,
já muita roupa lavaram,
já muitas tartes fizeram,
já muito bolo bateram,
já muito chão varreram,
já muita cera puxaram,
já muita erva arrancaram,
já muitos pontos deram,
Já muita mão encaminharam
E a escrever puseram,
Já muita palma bateram,
já muito, muito escreveram...
Aquelas mãos do passado
Meu orgulho, meu tesouro,
já muito, muito, amaram,
Já muito muito acarinharam,
já o meu pai lavaram,
já os seus olhos fecharam,
E continuam abertas
Embora ásperas e cansadas
Para muito, muito amar
Para alegremente ajudar...
Porque amar vai muito além
De beijar docemente alguém,
Amar é agente esquecer
Que as mãos vão envelhecer
Amar é dar e amparar,
Ajudar,estar presente e prever
Que o outro vai precisar
Das nossas mãos
Ásperas e cansadas,
Das nossas mãos
Grosseiras e calejadas!
Clara Faria da Rosa

sexta-feira, 20 de abril de 2018

Visitar o Senhor Espírito Santo


A malinha bordada:

Nos Açores, desde a Páscoa até aos domingos do Pentecostes e da Trindade celebram-se as festividades do senhor Espírito Santo, que têm um significado especial para todos os açorianos e que variam de ilha para ilha.
Como terceirense sempre vivi com entusiasmo este culto, e era com alegria, que via os "imperadores" ou os "mordomos", nome por que são designados as pessoas que têm a seu cargo receber em sua casa a coroa ou a vara, expoentes máximos desta devoção, entrarem na nossa casa para convidarem para a coroação ou mordomia.
Havia e, penso que ainda há, vários tipos de convites, conforme a afinidade ou parentesco, contudo nós normalmente íamos à função no Domingo e no princípio da semana fazer a visita ao Senhor Espírito Santo; É desse dia que te quero dar conta pois, para mim, era um dia de alegria.
Primeiro porque normalmente, tinha uma avental novo para usar, com folhos e um grande laço atrás e eu na minha ingenuidade sentia-me uma princesa - sempre tive tendência para ficar feliz com pouca coisa - depois ficava sempre expectante para saber o que a minha mãe ia oferecer... Por vezes era manteiga, ovos, açúcar, farinha... mas o meu delírio acontecia quando a minha mãe ia ao galinheiro e escolhia uma das melhores galinhas para meter ma sacola apropriada:
Uma mala de tecido preto com as pegas feitas de alamares e bordada pelos dois lados com um lindo ramo a ponto de  canutilho, matiz, cheio, ponto pé de flor...
Eu fazia questão de levar aquele presente, a galinha bem acondicionada de gargalo de fora, a ver novas paisagens, e eu de laçarote na cabeça, avental novo e sapatos muito bem lustrados, o meu coração saltava de contentamento!
Chegadas, a minha mãe entregava a oferta à Imperatriz ou à mordoma e ficava a adorar o Senhor Espírito Santo, e eu pernas para que te quero? Toca brincar para o sombreiro que era um grande toldo coberto de faias, onde se punham grandes mesas para as refeições dos convidados e dos que trabalhavam durante a semana para que no fim tudo resultasse, no dia da coroação e função.
A minha grande tristeza era quando a minha mãe pedia à dona da casa a "malinha" e me chamava, íamos à mesa, numa sala ao lado com uma mesa coberta de uma toalha muito bonita bordada ou de renda, onde havia massa doce, sumos e licores ou vinho e a minha mãe recebia uma grande brindeira de massa muito amarelinha e cheirosa, nome interessante para um pão,  o qual  vem da palavra primitiva brindar isto é obsequiar, agradecer, presentear,dar, mas eu não pensava em nada disto, só pensava em comer a cabeça da brindeira, coisa que não podia fazer, pois a minha mãe gostava de esperar pelo meu pai chegar do trabalho, para ele ver o lindo pão e então saborearmos em conjunto aquela delícia.
E lá voltava eu, pela mão de minha mãe, de laço ao lado,já meio desfeito,sapatos sujos e com o lindo avental sujo e amarrotado, com a mala bordada na outra mão a balouçar porque agora vinha despojada da  galinha! 
Posso não conseguir contar todas estas coisas que vivi na minha infância, mas pelo menos tentarei falar delas, e de um passado não muito longínquo, que me proporcionou muita alegria.
Cá vai a malinha  da história, bordada pela minha mãe, há muitas décadas.



Alfenim:
As mulheres da terceira
Linda ilha dos Açores
Em jeito de brincadeira
Fazem do açúcar flores.
Flores, frutos e animais
Tudo branquinho e doce
Finura vista jamais
E prometidas em prece.
São mãos de fada ágeis
Que com habilidade e gosto
Fazem estas peças frágeis
De requintado bom-gosto.
O calor suas mãos queima
Em tal artístico labor
Aquece o coração e teima
Fazer do trabalho louvor!
Clara Faria da Rosa





quarta-feira, 18 de abril de 2018

A respeito de felicidade:
Às vezes, ponho-me a pensar, porque é que me considero uma pessoa feliz, chegando mesmo a interrogar-me, se em caso de querer, teria a possibilidade de encontrar a infelicidade...
O problema é que eu não quero ser infeliz, agarro-me de tal forma às boas recordações e ao que tenho, no momento, de bom, que sinto assim como que uns sininos a repicar dentro de mim, como que a felicitar-me, pelo esforço que faço para encontrar a felicidade, nas pequenas coisa que vêm até mim.
Não procuro nada de extraordinário, pois através da experiência que tenho, sei que as coisas que nos dão profundo prazer e felicidade como por exemplo .a maternidade, o casamento ,o amor, o trabalho, também nos trazem responsabilidades e até riscos de perda , o que nos levará à infelicidade.
Portanto, não vou em voos de grandes altitudes , basta-me ser possuidora de uma rudimentar capacidade de sentir prazer nas coisas simples e comezinhas da vida .
Esforço-me diariamente para valorizar a possibilidade que tenho de viver como, onde e com quem quero, a saúde, a companhia de quem gosto ou dos meus amigos, os momentos de solidão, que prezo muito, e depois a alegria dos reencontros, enfim os mais variados momentos que embora simples ou insignificantes fiquem registados no meu coração, como um bom momento.
Depois de longa caminhada, concluí que o importante é ficar agradada e grata com aquilo que se tem e não esperar da vida coisas impossíveis... Não é a riqueza, nem o sucesso que nos vai trazer a felicidade, mas sim a maneira como lidamos com a nossa vida, com o que temos, com os que nos rodeiam, com o que nos acontece, valorizando sempre o que nos foi proporcionado, por muito pouco que seja!

segunda-feira, 16 de abril de 2018

Para te adoçar a boca...
Confeitos:
Confeitos são por definição "sementes ou pevides cobertas de açúcar, preparado em xarope e seco ao fogo", a palavra é um substantivo que vem do latim (confectu) e o adjectivo "confeitado" significa coberto de açúcar.
Fazendo uma pequena pesquisa concluí que há por esse mundo fora muitas receitas desta guloseima de todas as formas, feitios, cores e sabores. 
Que Deus me perdoe, mas para mim não há confeitos melhores do que os da ilha Terceira, Açores, fabricados pela firma Basílio Simões e filhos em Angra do Heroísmo.
Macios, branquinhos como véu de noiva e aromatizados com sementes de funcho, deixam na boca um sabor a tradição, a Domingos de Bodo, quando era hábito os rapazes oferecerem às raparigas grandes pacotes desta guloseima e a mesas de função, salpicadas do branco dos confeitos que os convidados metiam nos copos para adoçar o tradicional vinho de cheiro dos Biscoitos.
Modernamente as mesas são decoradas com pequenos embrulhos de confeitos que mimam e adoçam a boca dos convidados das funções do Senhor Espírito Santo.
É só mimo, requinte, religiosidade, fé, doçura e tradição!!!




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sexta-feira, 13 de abril de 2018

Beijinhos doces


Neste dia especial, dedicado ao beijo, não posso deixar passar a oportunidade de registar aqui a minha receita de beijinhos, aqui vai ela:
Aqui vão estes beijinhos,
que levam leite condensado.
côco e muitos miminhos
e açúcar cristalizado.
É tudo bem misturado,
com açúcar e carinhos,
ao microondas é levado.
para depois fazer bolinhos.
Envolva no açúcar cristalizado,
no cimo coloque um cravinho,
sempre com muito cuidado,
decore com um beijinho!
13/Abril/2018
Clara Faria da Rosa

Não sou um caracol sem concha!

Nada se compara a andar a pé para se conhecer  bem um lugar, e 
há dois anos  numa breve  permanência na cidade da Horta, ilha do Faial,  dei um pequeno passeio a pé  pela cidade e entrei no mercado municipal, um simples mas  aprazível espaço, que nos dá conta do que se produz e faz em termos artesanais por aqueles lados . Ao sair, contemplei a respectiva fachada onde se podem ver  alguns painéis de azulejos em homenagem a antigas profissões: vendedores de fruta, de legumes, de  peixe de carne entre outras.                                                               Foi com uma certa nostalgia que me apercebi de como os lugares à semelhança das pessoas mudam quase sem que nos apercebamos disso,  basta só pensar em profissões que eram prática comum na minha infância e que o avanço tecnológico exterminou fazendo com que aparecessem novas profissões.
Basta só referir que vim ao mundo, num meio rural, pelas mãos de uma parteira que fazia o que se podia classificar de "serviço domiciliário", a tia Remédios, na então freguesia, hoje vila das Lajes, não esquecendo  que não havia rapariga casadoira que não recorresse à tecedeira para completar o seu enxoval, o amolador que passava  a apitar e amolava facas e tesouras além de ter outros préstimos como os de pôr gatos em louça ou loiça rachada, e de endireitar e consertar as varetas dos guarda-chuvas, havia o vendedor de peneiras e até se dizia que quando ele aparecia ao fim de três dias chovia, o latoeiro também tinha grandes préstimos para fazer as latas do leite e recipientes que guardavam os produtos do porco entre outros, o tanoeiro, o sapateiro o ferreiro, a ceifeira  a mulher do Pico que passava com um grande açafate à cabeça com lindos e coloridos chapéus de palha que me traziam grande alegria, pois a minha mãe todos os Verões me comprava um chapéus novo porque naquele tempo a moda era ser-se branquinha .
Enfim, não sou contra os avanços tecnológicos, nem contra as novas profissões e gosto de olhar para a frente mas também de rever o passado e estas imagens fazem parte do meu passado  como a concha faz parte de um caracol e eu não sou um caracol sem concha, tenho um passado do qual muito me orgulho!!!



quinta-feira, 12 de abril de 2018

Espelho meu, espelho meu...









A "Branca de Neve e os Sete Anões" é um conto com origem na tradição oral alemã que, em conjunto com outros contos, foi  compilado pelos irmãos Grimm, no principio do século XIX. Nele  conta-se, como muitos saberão, que tendo uma rainha sido mãe de uma criança muito linda e branca lhe pôs o nome de "Branca de Neve". Ora,sucedeu que falecendo a rainha, o rei casou com uma mulher muito má e vaidosa que levava a vida a contemplar-se no seu lindo e valioso espelho de mão ao qual frequentemente perguntava:
-Espelho meu,espelho meu, há alguém mais bonito do que eu?
Ao que o espelho respondia que ela era de facto a mais bela.
O tempo passou e a Branca de Neve atingiu os seus 18 anos, a partir daí a resposta do espelho à frequente pergunta da rainha passou a ser outra.
-Vós sois muito bela,senhora, mas a Branca de Neve é ainda mais bela!
Ora isto encolerizou de tal modo a rainha madrasta que mandou matar a jovem...
Quando olho estes espelhos que conseguiram resistir intactos e sem qualquer"beliscadura" a várias décadas,espelhando tanta coisa que se falassem não conseguiriam revelar ao mundo todas as transformações que presenciaram ao longo das suas vidas,lembro-me sempre da malvada da madrasta da Branca de Neve e ao contemplar-me penso no que fui, no que sou, no que serei e no que poderia ter sido e também que sempre tentei dar uma nota de cor, confiança e  significado à minha vida! 
Imagina se os meus espelhos me dizem que estou enganada,que não encarei as mudanças com coragem,que andei muitas vezes iludida pensando estar no caminho certo e ser dona de uma verdade que,na verdade,não o era,que não aproveitei os recursos que tive ao meu dispor... 
Que fazer??? Quebrar os espelhos, que não mentem, ou tentar redimir-me, modificar-me, melhorar?
Estamos sempre a tempo...

terça-feira, 10 de abril de 2018

Quando os reis vieram à Terceira
D. Carlos, filho de D. Luís 1º e da princesa Maria Pia de Saboia, casou em 1886 com a princesa D. Amélia de Orleães, filha do conde de Paris, na igreja de São Domingos, em Lisboa, e tornou-se rei de Portugal em 1889.
Ficou conhecido na história pelo Oceanógrafo, cognome justificado pela sua paixão pela oceanografia, por Martirizado ou Mártir por ter morrido assassinado e por Diplomata devido às várias visitas de cortesia que fez a diversos países, e aos arquipélagos da Madeira e dos Açores onde aportou nos princípios de Julho de 1901.
São dessa época os saborosos bolinhos que todos conhecem feitos com farinha de milho, ovos, mel de cana e especiarias que foram baptizados com o nome da soberana, em sua honra; O que não se sabe ou não se diz é que as mulheres da freguesia da Ribeirinha, ilha Terceira, teceram uma colcha com a coroa real, para lhes oferecer.
Partiram os monarcas, levando a dita colcha da qual foram feitas cinco réplicas, para várias famílias da ilha.
Quando criança ouvia falar de uma dessas colchas, pertença de uma tia minha, cujo marido a herdara de seus pais, como criança não ligava ao assunto, contudo, morrendo a minha tia e o marido, foi herdeiro o filho destes, o meu primo Francisco Fernandes Martins Aguiar ( Ramalho) casado com Ercília Borges Aguiar.
   Esta história que te conto, leva-me a meditar nas transformações sofridas pela nossa sociedade, no espaço de um século, e nas nossas antepassadas que tanto trabalhavam e que segundo creio, não o fizeram por acaso nem sem objectivo, mas com muita coragem, dignidade e persistência...É por isso que sinto  um grande orgulho das nossas avós terceirenses cujo amor, força, e coragem faziam com que valesse a pena viver apesar das adversidades de então!!!
Cada vez mais tenho a certeza de que os costumes e instituições legados pelos nossos antepassados, constituem a sabedoria de muitas gerações após séculos de experiências o que ao fim e ao cabo é a nossa história. Temos obrigação de dar continuidade a essas tradições, pois romper com o passado será pura loucura, é como cortar as raízes de uma árvore sem as quais não se poderá sustentar!
Cá está a linda colcha, feita nos teares da Ribeirinha, há mais de cem anos!

domingo, 8 de abril de 2018

Viajando de chávena até Massarelos




Há quem viaje da barco, de avião, de comboio, de autocarro, de balão a pé ou até mesmo, como no caso das bruxas, de vassoura; Pois é, a vida tem destas coisas, eu hoje deu-me para viajar de chávena, o que não é caso para admirar, visto neste mundo, haver lugar para as mais diversas e variadas extravagancias.
Pois lá vou eu muito bem acondicionada, nem galinha choca no seu linheiro, até um  antiga freguesia de Portugal, situada nas margens do rio Douro, pertencente ao concelho do Porto, chamada Massarelos e que actualmente pertence à União da Junta de Freguesia de Lordelo,Ouro e Massarelos.
Fui à procura da origem, ou da árvore genealógico das minhas chávenas, porque foi  nesta localidade de Massarelos que funcionou a mais antiga fábrica de faiança do norte de Portugal, fundada em no SÉC.XVIII em 1763 ou 1766 ( Encontrei as duas datas ), até que o primitivo edifício foi consumido por um incêndio em 1920 tendo depois em 1926 sido vendida à Companhia da Fábrica de Cerâmicas Lusitana que numa fase de expansão, comprou fábricas falidas por todo o país.
São desta época as chávenas de chá/almoçadeiras que te mostro, peças vintage, da fábrica Lusitânia período Massarelos, decoradas com motivos orientais e carimbo do início de séc. XX, uma das quais me serviu de meio de transporte, nesta aventura .
Sendo uma sentimentalona,  gosto especialmente   de trazer o passado para o presente, sobretudo quando se trata de peças de encanto, que como estas, continuam maravilhosas após tantos anos.
Depois desta breve viagem por um mundo que para mim é mágico, faço-te o seguinte convite:
Que tal vires cá a casa tomar um chá numa Massarelos, embarcas também nesta aventura e no gosto por estes assuntos? A água já ferve, traz uns bolinhos!!!







sábado, 7 de abril de 2018

Os Colchões da nossa memória:


Parece incrível mas a verdade é que os colchões nem sempre foram o que são hoje, no tempo da minha avó e da minha mãe e quando eu era criança eram de folha, da folha do milho, escolhida da mais fina e branquinha que no Verão era lavada, posta ao sol e renovada, então estes ficavam altos e cheirosos e quando nós nos deitávamos, faziam um barulhinho que chamava o sono, ficávamos muito aconchegadinhos e dormíamos que nem justos. 
Ainda me lembro da trabalheira que era todos os dias ter que remexer a folha para os colchões ficarem fofos e até me lembro que a minha mãe tinha uma cana da largura da cama, preparada para os nivelar e assim ficar tudo muito direitinho. Enfim, outros tempos...
A folha era metida em colchões feitos de linho cultivado, tratado e fiado por essas mãos ancestrais e esse tecido cá na Terceira era quadriculado em tons de azul .
Pois é disso que te quero falar, no fundo de uma arca que herdei da casa dos meus pais, havia um desses colchões, sem a folha, claro, que nunca fora usado e eu sempre que o olhava lembrava-me com uma certa nostalgia destas coisas que te estou a contar. Receosa que mais tarde alguém se desfaça dele por não  estar ligado a estas recordações e por isso não compreender o seu valor, resolvi aplicá-lo, quer dizer fazer uma reciclagem e o colchão virou toalha rústica, uma toalha bastante grande para usar numa mesa no terraço onde comemos nos dias agradáveis de Verão.
Fiz um entremeio e uma renda para pôr à volta e ficou com este aspecto:

quinta-feira, 5 de abril de 2018

Ocupada a viver...

Coisas imprestáveis??
Não, para mim, não há coisas imprestáveis, quando olho para os objectos, por mais insignificantes que sejam, penso logo nos seus préstimos e, quando os vejo abandonados, penso no que se pode fazer com eles para que se tornem úteis. Foi o caso destes objectos que não faziam conjunto com nada, dois pratos antigos, muito bonitos, uma tigela de sopa  com umas flores muito alegres e apelativas, uma peça de estanho de um velho candeeiro e um pequeno mas mimoso "bibelot".
Vai daí, toca de os juntar e de fazer deles um conjunto utilitário e até certo ponto com um certo requinte, penso eu, tu o dirás!
Isto tudo para contrariar uma frase que li um dia destes, "aquele que não estiver ocupado a nascer, está ocupado a morrer!" 
Ora, não estando ocupada a nascer, já o tendo feito há muitos anos, se bem que se nasça todos os dias, mas isto são outros assuntos, pelos quais não quero entrar agora e, também não estando ocupada a morrer, graças a Deus, se bem que também se morra todos os dias, estou ocupadíssima a viver, e espero que ainda continue ocupada por largos anos, é por isso que me ocupo a dar préstimo  e valor às coisas...


















segunda-feira, 2 de abril de 2018

Depois da Páscoa, nos Açores:

Depois da Páscoa, nos Açores:
Logo depois da Páscoa,
Nos Açores,
O arquipélago é um altar
E cada ilha é uma mesa
Para o Espírito Santo louvar,
São cortejos para a igreja
Onde o imperador vai coroar,
E depois a mesa posta
Numa fartura sem par...
Massa doce, carne
E esculturas de alfenim,
Muito pão
Em arrendados açafates,
Vinho a borbulhar
No canjirão,
E copos enfeitados
De alvos e doces confeitos.
É o povo ilhéu
Religioso e profano
Na sua fé,
Crente e festeiro,
O terço rezando,
Com muito fervor,
Numa sentida prece,
Num hino, num louvor
Ao Divino Espírito Santo!
Então, no sétimo domingo,
No terreiro do local,
É o culminar
Da abundância e da partilha,
É a terceira pessoa louvar...
Em cada casa, em cada ilha!
Clara Faria da Rosa