sábado, 20 de agosto de 2016

O Mundo, tão grande e tão pequeno!

Hoje, Sábado de manhã, dou uma volta pela baixa de Angra e deparo-me com uma montra decorada conforme podes ver na fotografia, resquícios das nossas  Sanjoaninas  que, muito a propósito, assinalaram os 250 anos da instalação da capitania geral no palácio dos Capitães Generais em Angra o que fez desta cidade, capital dos Açores. As rotas e o comércio marítimo, a defesa da coroa , Angra capital no meio do Atlântico  e a mais alta condecoração portuguesa,  o colar de torre e espada, foram temas que povoaram as nossas artérias principais por essa altura. embora já decorridos dois meses , dei por mim a pensar em tudo isto, também porque ando a ler o livro de João Gago da Câmara " Dos Vulcões ao Desterro" apresentado ao público angrense no dia 16 de Junho p.p., o qual trata da emigração e dos laços históricos entre os Açores e a ilha de Santa Catarina, no Sul do Brasil. Costumes, tradições, maneiras de ser, de falar, para lá levados pelos nossos antepassados,tudo pode ser captado nas crónicas do autor o qual, a certa altura, e para não me alongar muito , diz o seguinte acerca da renda de bilros lembrada na montra que me despoletou este pobre escrito:
- "...Vem do relacionamento dos povos do Ocidente com os povos do Oriente, na época dos descobrimentos marítimos, tendo tido grande expressão nos arquipélago da Madeira e dos Açores, Principalmente originária da China, esta arte chega à ilha de Santa Catarina através da emigração açoriana , acontecida em meados do séc. XVIII.
A renda de bilros é trabalhada com pontos no ar, sem o suporte de tecido. Os fios são presos de um lado a uma das extremidades do bilro e a outra extremidade é presa por  alfinetes num cartão, com o desenho da renda pretendida, fixo numa almofada..."
 A olhar para aquela montra concluo que é bem verdade o que diz João Gago da Câmara  no último parágrafo da página 26 do seu livro. " O povo quando parte, leva consigo o que mais gosta e o gostar de um povo dura para sempre.", e apetece-me ainda acrescentar: na verdade, para a cultura, para a saudade, para o saber e para a resiliência do emigrante açoriano, não há fronteiras e o Mundo não é tão grande como pensamos...

Faz hoje CINCO anos...
A ausência que aumentou a amizade
No início da década de sessenta, tinha eu já feito o ensino primário, e o chamado ciclo preparatório e estava a frequentar o Curso de Formação Feminina na querida e extinta Escola Industrial e Comercial que funcionou nesta cidade de Angra do Heroísmo, entre 1885 e 1978. Era um estabelecimento de ensino técnico/profissional, tendo sido a 1ª escola deste tipo a existir nos Açores e formado muitos operários especializados e técnicos comerciais e industriais, oferecendo também cursos de Formação Feminina. Esta escola secundária funcionou no palacete do Comendador Silveira e Paulo ou Palacete dos Africanos situado ao cimo da Rua do Galo, junto à igreja de Nossa Senhora da Conceição e foi integrado no Liceu de Angra do Heroísmo por força de um Decreto de Abril de 1978.
Foi, portanto, este estabelecimento e este curso que eu frequentei antes de ingressar na escola do Magistério Primário de Angra, pois o meu sonho era ser professora mas os meus pais, especialmente a minha mãe, mais atenta a estas coisas, entenderam que frequentando primeiro este curso ficava com mais competências e mais preparada para a vida. E em boa hora o fizeram pois eu senti-me muito feliz nesse período da minha vida. Adorava o lindo edifício para onde me dirigia todos os dias, que comparado com a simplicidade das casas rurais da minha freguesia era uma coisa sumptuosa, e respeitava todos os meus professores e gostava de todas as colegas que se foram tornando amigas e factores de satisfação e confiança na minha vida. Sei que é humanamente impossível dizer quando começa uma amizade, contudo o facto de ter sido aceite pelas minhas colegas de turma com delicadeza, carinho e tal como era , foi para mim um elogio e um factor de satisfação que me deu coragem e força para continuar a caminhada.
Nunca somos suficientemente ricos que possamos viver sem um amigo e eu era rica e feliz com aquelas amigas!
O tempo foi passando, cada uma foi para o seu lado, seguindo o seu destino, algumas já partiram desta vida, outras emigraram, mas a ausência não fez diminuir a amizade, aumentou-a porque era autêntica e genuína tal como o vento, que apaga a vela por ser fraca, e ateia os fogos que são fortes.
Pois uma dessas amigas, radicada na Califórnia, Maria da Conceição Dias da Silva, esteve de passagem pelos nossos Açores e pela nossa cidade, faz cinco anos, e nós quisemos dizer-lhe isso mesmo, que a amizade e admiração aumenta com a distância quando é verdadeira, reunimo-nos com ela, a almoçar, num restaurante da nossa cidade e passeamos pela nossa marina, despretensiosas, despreocupadas e alegres como se fossemos as adolescentes de então.
Antes porém ao almoço dissemos à amiga Conceição que: Amizade:
Amizade é brisa suave,
Que ultrapassa os verdes montes,
Atravessa mares e oceanos
Palmilha Planícies e vales
Resiste ao tempo, aos anos…
Amizade é vento forte,
Que abana os mais distraídos,
Lembrando os tempos passados
Na cumplicidade vividos,
Com nostalgia recordados…
Amizade é um vento húmido,
Que entranha todo o nosso ser,
Transformando a ausência em presença,
E nos faz de saudade estremecer,
Envolvendo o amigo na lembrança…
Amizade é ventania,
Que ao passar do tempo resiste,
À Distância que a vida obriga
E à ausência que existe
E faz da saudade cantiga...
Esta nossa amizade,
Foi brisa suave,
Foi vento forte e húmido
E ventania….
Resistiu ao tempo,
À ausência,
À distância
À Vida…
E trouxe-nos este belo momento
Que não queremos esquecer…
Guarda-lo-êmos no pensamento
Enquanto pudermos viver!!!
Pois foi isto que dissemos à amiga Conceição Dias da Silva, por entre comoção e algumas lágrimas, com um pedido do grupo para que voltasse, o que infelizmente ainda não aconteceu, para podermos, mais uma vez, estar com ela numa tarde tão agradável com a que vivemos naquela tarde de 2011, faz hoje cinco anos!
A nossa colega e amiga Conceição Dias em 1963, antes de emigrar:
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