segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Figos pretos e pudim boca-doce

Hoje  andei nostálgica.

Foi dia de festa, dia de procissão, em Santa Luzia da Praia da Vitória, terra natal da minha família materna, e não me canso de lembrar que sendo filha única gostava muito de ir para casa da minha avó para brincar com os meus primos que viviam uns em casa dela, outros nos arredores e de lembrar também o que se vivia neste dia.
Nas vésperas eu ia com a minha avó ao pomar, untar os figos da enorme e centenária figueira e lá ficavam eles a apanhar sol, esperando o dia de serem apreciados.
A minha tia Juvolina que vivia com a sua família em casa da minha avó, comprava na loja do Ratinho pudins boca-doce de variadas cores e sabores e, porque à altura não havia formas de alumínio, usava uma lata grande de conserva de frutas, frutas encanadas, como então se dizia, trazidas pelos americanos e lá punha os pudins às camadas, metendo a lata num cesto de vimes que pendurava pela asa com uma corda na cisterna, para se manter fresquinho, era o frigorífico daquele tempo!
No dia da procissão, o meio da casa tinha as cómodas enfeitadas com jarras antigas cheias de flores rústicas, que a minha tia apanhava à volta de casa, e uma grande mesa coberta com uma alva toalha de linho, de dois panos, como a minha mãe dizia, porque tinha uma costura ao meio, devido ao tear não fazer panos tão largos que cobrissem a mesa.
Vinha a família dos arredores, juncal, Canada dos Pastos, Fontinhas e sentáva-mo-nos todos a saborear a sopa de carne e o cozido feitos pela minha avó que era especialista, era mestra de funções. Depois era altura de se porem na mesa grandes pratadas de figos reluzentes que desapareciam como que por magia.
Mas o que eu esperava com impaciência, era pelo pudim boca-doce! Ainda me lembro da sensação de estar a olhar para ele enquanto a minha tia o punha ma mesa, firme, brilhante, colorido, apetitoso... e do êxtase que sentia enquanto a minha tia o repartia por pequenos pratos antigos da minha avó.
Esta história pode parecer ridícula, mas não nos podemos esquecer que naquela época, não se usavam as natas, as gelatinas, o leite condensado e quejandos e que não se faziam muitas sobremesas, só em dias muito especiais!
Infelizmente já nada disto existe, mas o meu coração permanece lá.
Sinto-me contente, por poder partilhar contigo esta história, esta vivência , este fragmento do meu passado, assim como a fotografia da minha avó com alguns dos seus netos, lembrando com muita saudade um que já partiu o José António, o menino lindo que na foto está à esquerda, de gravatinha escura.

domingo, 30 de agosto de 2015


BRISA DO MAR...

- Se eu fosse a brisa do mar,
Murmurava bem baixinho,
À Lua, ao Sol e à Terra,
À paz, à calma e à guerra,
Aos montes, vales e cidades...
- Eu sou a brisa do mar,
E vejo o Mundo a Girar,
E os homens a sofrer,
As mulheres a gerar,
E as crianças a crescer...
- Eu sou a brisa do mar,
 E quero pedir ao Mundo,
Que olhe bem à sua volta
E acabe com a revolta
E semeie o perdão,
O amor e a gratidão,
E ouça o meu murmurar
Que a todos quer recordar
Os valores do passado,
E que o Mundo está mudado
Com falta de uma linda flor
Que lhe traga nova cor!

Clara Faria da Rosa

Quando a linha da vida se parte:

É, desde sempre, que me lembro desta caixa, no canto do estrado, na minha casa das Lajes; Era o trabalho leve da minha mãe! 
Aos Domingos íamos à missa, almoçávamos, a minha mãe levantava a mesa e lavava a louça e, como não se trabalhava ao Domingo, ela sentava-se a fazer um trabalhinho leve, o seu crochet... a minha mãe sempre foi uma mulher determinada que se deu à vida e ao trabalho, não era ociosa nem sequer tinha passatempos, estou em crer que ela nem conhecia esta palavra: Passatempo...
 E sempre foi assim, até ao fim, de tal modo que quando faleceu, andava a fazer uma renda para um lençol.
Partimos, mas as coisas ficam, e lá ficou a caixa, abandonada no canto do estrado, como se também tivesse perdido a vida .
Ao abri-la, deparei-me com o trabalho inacabado e pensei como é a vida  repleta de imprevistos e como nós nunca consideramos que a meta foi atingida, é muito difícil considerar que a nossa actividade terminou, só se por infortúnio do destino isso acontecer inesperadamente, como foi o caso.
Num rasgo de saudade e de impotência, perante a dura realidade, emoldurei, como recordação, o trabalho inacabado assim como a farpa com que a minha mãe fazia o seu crochet.
Já lá vão muitos anos, contudo ao olhar para estes objectos lembram-me sempre como é efémera a linha que nos agarra à vida,  a qual pode ser quebrada a qualquer momento. É por isso que te conto esta história de uma mulher que "crochetou" a vida com muita garra e determinação até que a linha se quebrou!








sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Hoje fiz doce de figo:

A minha figueira







Embora já velha, esta árvore, quando chega a Primavera dá sempre sinal de si e em Agosto/ Setembro oferece-nos os seus frutos que embora pequenos, pois penso que a árvore não é tratada convenientemente, lá vão dando para se comer e fazer doces, compotas e bolos,  também lá mais para a frente farei figos cristalizados como é habitual, para guardar para o Natal.
Enfim é uma árvore comum aqui nos Açores, que segundo pequena pesquisa que fiz, tem o nome científico de Ficus carica , da família moraceae e de origem asiática. É uma árvore que se adapta a qualquer tipo de solo embora se desenvolva melhor em terrenos profundos e permeáveis e em climas temperados.
O fruto da figueira a que chamamos figo, na verdade, não passa de um receptáculo de casca macia e fina onde se encontram os verdadeiros frutinhos, as sementinhas e os restos das flores da figueira, sendo todo o conjunto completamente comestível.
O conjunto referido é rico em açúcar, muito energético, possuindo potássio, cálcio, fósforo e outros sais minerais, contribui para a formação óssea e dos dentes e evita a fadiga mental, ajudando ainda à transmissão normal dos impulsos nervosos.
Tudo isto, para te falar do doce de figo que fiz hoje, e que ficou muito bom. Agora é só acompanhar com umas torradinhas e lentamente saborear esta delícia feita com o fruto da  ficus carica, também com um nome deste só podia ser bom! 

No dia dos meus anos:

Dos meus anos era dia,
E este colar recebi
Azul e pérola e alegria
Ai que bem eu me senti...
Por ser dia especial
Alguém de mim se lembrou
E em carinho sem igual
Este presente embrulhou...
O meu coração aqueceu
Fiquei feliz e contente,
Meu filho não esqueceu
O que a mãe aprecia e sente!

Clara Faria da Rosa
Agosto de 2015


quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Uma história de desavenças entre burros e cavalos

Em tempos idos, numa das cidades do arquipélago açoriano, a comissão encarregada de organizar e pôr na rua as maiores festas profanas dos Açores, querendo inovar, refrescar e inventar um momento hilariante, divertido, simples e despretensioso,lembrou-se de convocar os Equus Asinus, conhecidos, entre nós, por burros, a participarem numa corrida,  numa das artérias mais nobres da referida cidade.

O que foi fazer a dita comissão!!!?
Saíram logo à rua os cavalos todos ofendidos, que não senhor, que não deviam ser os burros a terem tal honra, mas eles que eram mais altos mais corpulentos, que tinham chegado primeiro do que os burros, que embora equídeos só haviam chegado à Europa no 5º milénio antes de Cristo, que a pelagem dos ditos era feia e que só tinham a seu favor, como marcas que os distinguissem, os zurros e o tamanho das orelhas...
Foi tal o zururu que, pelas esquinas da dita cidade, património mundial, não se via outra coisa se não burros e cavalos que se olhavam de lado cada um pensando ser uma mais valia para a cidade, para a festa e para a sociedade em que se inseriam!
Murmuravam os burros:
- Somos burros, e depois? Falem com Cervantes que nos pôs a servir Sancho Pança, o escudeiro do célebre cavaleiro dos moinhos, D. Quixote de la Mancha!!!
-Porque será que não escolheu um cavalo? , pensavam estes.
-Porque somos o animal ideal, antigo, do tempo da idade do Bronze, procedentes do antigo Egipto, somos animais de linhagem, com representações gráficas da idade do Ferro, não somos qualquer pé- rapado, que apareceu ontem por se ter introduzido na política, ou por ter enriquecido com subsídios da C.E. E., ou à custa de qualquer negócio obscuro, ou por ter fugido ao fisco...
- Não senhor, nós zurramos direito! temos valores e valor!
- À mesa do café, os cavalos em surdina, murmuravam: - Para se participar de um evento desta envergadura é necessário nobreza, altura, visão, aprumo, raça...
Ao que os burros sabedores deste comentário replicavam: - Quanto à nobreza não pode haver equívocos, embora só meçamos entre 1,35m. a 1,45m.de comprimento ( medidos de entre as orelhas até à origem da cauda ) e tenhamos entre 1,10m. a 1,15m. de altura (medidos ao nível das espáduas ) , somos da família dos equídeos e, sendo a família a pedra fundamental da sociedade e fonte de apoio espiritual, emocional, moral e material temos que enfrentar o futuro com confiança, não será um simples concurso que irá abalar uma estrutura milenar como a família.
-Somos menos corpulentos que os nossos primos, os cavalos, é certo, mas a nossa cabeça é mais volumosa e a nossa anatomia tem o mesmo número e a mesma disposição de peças e embora as nossas órbitas sejam afastadas temos a vista mais apurada assim como o olfacto e o ouvido do que eles !
-Vozes de burro não chegam ao céu... Diziam os cavalos despeitados do alto dos seus cascos. sem querer "descer do burro", que é como quem diz , transigir ou ceder.
-Queremos ainda lembrar - diziam ainda uma vez mais os burros - que em muitas regiões o leite das nossas fêmeas é muito apreciado por a sua composição ser semelhante ao da mulher, sendo muito rico em albumina, caseína e sais e mais pobre em gorduras e que a nossa pele , por ser dura e elástica, se usa no fabrico de crivos, tambores, correias, calçado, sacos e até de tendas para os povos nómadas.
-São é animais de carga , é o que é, com eles não se aprende nada, a expressão "cabeça de burro" diz tudo!- Replicavam os cavalos, à falta de melhor argumento.
-Até o nosso excremento serve de adubo e aquece as terras e os nossos ossos duríssimos e sonantes, servem para o fabrico de flautas... - Acrescentavam os visados.
Enfim, por esta altura só se ouviam zurros e relinchos por toda a cidade, até os orgãos de comunicação social noticiavam o que se passava, à conta da programação das festas.
Alheios a este escândalo os elementos da comissão das festas à custa do seu lazer, do seu sono sossegado e em prejuízo das suas famílias, trabalhavam "como burros "e davam como definitiva a programação, decidindo que os cavalos teriam também ocasião de brilhar na Feira taurina de São João, o que seria um privilégio, pois privariam com nomes sonantes do toureio como o matador Ruben PinarEl Juli e ou José Manuel Mas.
E pronto, foi assim, com todo este burburinho , falatório, zurrar e relinchar a publicidade estava feita! Embora a tarde estivesse chuvosa,os burros participaram e o público apareceu, divertiu-se e aplaudiu aquele momento, diferente, fresco, alegre, despretensioso e informal do qual abaixo mostramos alguns registos.
Ah! esquecia-me de acrescentar que afinal os burros foram os vencedores pois um dos seus representantes teve a honra de ser entrevistado num prestigiado jornal local, o que não é para qualquer 
um!... e anunciaram estar à espera da 2ª edição da corrida .

É caso para dizer:
-Arre burro!





Quando Saint-Exupéry foi contrariado

Saint-Exupéry em o Principezinho diz:
" As pessoas crescidas gostam de números. Quando lhes falais de um novo amigo nunca perguntam o essencial. Nunca vos dizem: "Como é a fala dele? Quais os seus jogos predilectos? Colecciona borboletas?". Perguntam:" Que idade Tem? Quantos irmãos tem? Quanto pesa? Quanto é que o pai ganha?" E só depois disso julgam que o conhecem."
Na tarde de ontem Saint-Exupéry foi contrariado! Sim, que nos perdoe... Um grupo de mulheres juntou-se numa esplanada da nossa cidade de Angra do Heroísmo e, embora crescidas, como diz o célebre autor, não falaram de números, de idades de dinheiro , de peso nem dessas trivialidades usuais de reuniões idênticas e sabem porquê? Porque, como que por magia,  voltaram à sua juventude, à sua infância e falaram de amizades ausentes ou presentes, de professores, da querida e saudosa Escola Industrial, das aprendizagens que lá se efectuarem e que muito marcaram o percurso das respectivas vidas, da saudade, das brincadeiras e partidas que se faziam, dos funcionários que à altura não eram contínuos nem empregados mas amigos que se respeitavam...
As gargalhadas misturaram-se com um sentimento nostálgico de quem sabe que se neste mundo " cada um tem exactamente o que merece" , foram privilegiadas, mereceram um passado, uma escola e uma juventude que as marcou, reconhecem isso e estão gratas!
 
















domingo, 23 de agosto de 2015

Chapéu à zamparina

Estou a assistir à estreia do programa PEQUENOS GIGANTES, na TVI, no qual a actriz Rita Pereira desempenha o papel de jurada, linda como sempre , com um lindíssimo chapéu vermelho que lhe assenta no bronzeado da pele, na exuberância da sua juventude e no colorido do modelo que usa, como uma luva!

Como todos os que me conhecem bem sabem, adoro chapéus, de Inverno de Verão de palha ou de feltro, não interessa é um chapéu...Aqui é que entra a história de que te quero falar:
Num dia  invernoso  saí de chapéu, um lindo e elegante chapéu de feltro de um verde garrafa muito escuro e fui visitar uns amigos, ao chegar disseram-me:
-Estás muito bonita, com o teu chapéu à zamparina!
Fique admirada sem saber se o comentário era elogioso ou depreciativo. Então, decidi investigar o significado e a origem da expressão, pois hão-de chamar-me nomes mas eu ao menos hei-de saber o que querem dizer! Sou assim, curiosa...

À zamparina quer então dizer:

De forma atabalhoada, coisa mal feita, mal amanhada, mas também correspondia, em tempos idos e em linguagem de moda à forma como se usava o chapéu ligeiramente inclinado para a frente, cobrindo um pouco a orelha direita, uma forma inusitada de usar o chapéu nos séculos XVIII e XIX.

E a responsável de tudo isto, quer dizer, desta expressão, é a senhora cuja gravura mostro  que  foi uma muito  famosa cantora de ópera que veio de Veneza para Portugal em 1772, no tempo do Marquês de Pombal Chamada ANNA ZAMPERINI, uma figura muito controversa  que ficou famosa pelos seus dotes artísticos, teatrais e musicais, pela sua irreverência, inusitada à época, e pelo seu poder de sedução  que incluía o uso do chapéu inclinado. Parece que Anna Zamperini se enamorou do filho do Marquês de Pombal o qual desagradado com  este romance a mandou atabalhoadamente de volta para a Itália e interrompeu a contratação de mulheres estrangeiras, para dançar e ou cantar nos palcos portugueses.
Assim,  e concluindo, passou a chamar-se a forma como se usa o chapéu mas também uma coisa feita de forma atabalhoada isto é a forma como foi feita a expulsão da cantora Anna Zamperini de Portugal.
E cá estou eu numa tarde soalheira, mas fria, do final de Janeiro,passeando pela baixa de Lisboa com o meu chapéu à zamparina , que agora já sabemos que é à "Zamperini" 
Enquanto isso ia pensando, também,  se  Anna Zamperini teria passeado com o seu amado, o filho do marquês de Pombal, por aquelas ruas o que terá sido pouco provável devido ao caos que se vivia na altura com a reconstrução de Lisboa após o terramoto de 1755

Santa Clara a minha patrona:

Santa Clara a protectora dos viajantes, dos aviadores e dos que têm problemas de visão.

Nasci no dia 12 de Agosto de 48, nessa altura a igreja festejava Santa Clara nesse dia, segundo dizia minha falecida e saudosa mãe, parece que agora passou para o dia anterior, o que não tem relevância para o caso, o que interessa aqui referir é que em homenagem à referida santa nascida em Assis, no ano de 1193, no seio de uma família rica e que fugiu de casa para se consagrar a Deus, herdei o seu nome que muito prezo, e de quem fiquei devota, e a quem peço protecção quando me vejo muito aflita visto que é considerada a protectora dos viajantes e aviadores, dos que têm problemas de vista, e em situações de provações e dificuldades da vida.
 Certo dia, viajando de Lisboa para a Terceira, com uma amiga esta disse-me ter uma oração a Santa Clara dando-ma posteriormente a qual registo abaixo a qual me acompanha sempre quando viajo, pois nunca temos protecção demais!
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ORAÇÃO PARA OS AVIADORES E VIAJANTES:
Santa Clara clareai estes ares.
Dai-nos ventos regulares de feição, 
estes ares, estes mares clareai!
Santa Clara dai-nos Sol,
se baixar a cerração alumiai meus olhos.
Estes montes e horizontes clareai!
Santa Clara, no mau tempo sustentai nossas asas,
a salvo de árvores casas e penedos,
nossas asas governai!
Santa Clara, clareai e afastai todo o perigo...
Por amor de S. Francisco, vosso mestre, nosso pai.
Santa Clara, todo o risco dissipai.
Santa Clara, clareai!

O que é a meia- idade...

Fazer-se o que se entende:

Não é segredo para ninguém que fiz anos no passado dia 12, pois fiz questão de o apregoar bem alto e fui parabaneada por amigos, conhecidos e familiares, recebi alguns presentes, enfim, passou-se o dia. Contudo,  com esta história dos meus anos tenho meditado mais no assunto e para me consolar penso  que a idade é como o whisky, quanto mais velho melhor e que os móveis antigos são os mais valiosos.
Tretas! A verdade verdadinha é que segundo várias cabeças pensantes meia-idade é:
"Quando tudo começa a estalar: cotovelos, joelhos e pescoço".
"Quando percebemos que nunca viveremos o suficiente para experimentarmos todas as receitas que passámos os últimos 30 anos a compilar".
" Quando é não só mais tarde do que pensamos, mas mais cedo do que imaginamos".
"Quando estamos perante duas tentações e escolhemos a que nos leva para casa mais cedo".
E pronto, está tudo dito, resta viver conforme se puder !
O que eu te posso dizer, por experiência própria, é que nunca atingimos a idade de fazermos o que bem entendermos, há sempre algo que nos condiciona!!!:

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Faz hoje quatro anos...

A ausência que aumentou a amizade

No início da década de sessenta, tinha eu já feito o ensino primário, o chamado ciclo preparatório e estava a frequentar o Curso de Formação Feminina na querida e extinta Escola Industrial e Comercial que funcionou nesta cidade entre 1885 e 1978. Era um estabelecimento de ensino técnico/profissional, tendo sido a 1ª escola deste tipo a existir nos Açores e formado muitos operários  especializados e técnicos comerciais e industriais, oferecendo também cursos de Formação Feminina. Esta escola secundária funcionou no palacete do Comendador Silveira e Paulo ou Palacete dos Africanos situado ao cimo da Rua do Galo, junto à igreja de Nossa Senhora da Conceição e foi integrado no Liceu de Angra do Heroísmo por força de um Decreto de Abril de 1978.

 

Pois foi , portanto, este estabelecimento e este curso que eu frequentei antes de ingressar na escola do Magistério Primário de Angra, pois o meu sonho era ser professora mas os meus pais,  especialmente a minha mãe, mais atenta a estas coisas, entenderam que frequentando primeiro este curso ficava com mais competências e mais preparada para a vida. E em boa hora o fizeram pois eu senti-me muito feliz nesse período da minha vida. Adorava o lindo edifício para onde me dirigia todos os dias, que comparado com a simplicidade das casas rurais   da minha freguesia era uma coisa sumptuosa e gostava e respeitava  todos os meus professores e colegas que se foram tornando amigas e factores de satisfação e confiança na minha vida. Sei que é humanamente impossível dizer quando começa uma amizade, contudo o facto de ter sido aceite pelas minhas colegas de turma com delicadeza, carinho e tal como era , foi para mim um elogio e um factor de satisfação que me deu coragem e força para continuar a caminhada.
Nunca somos suficientemente ricos que possamos viver sem um amigo e eu era rica e feliz com aquelas amigas!
O tempo foi passando, cada uma foi para o seu lado, seguindo o seu destino, algumas já partiram desta vida, outras emigraram,  mas a ausência não fez diminuir a amizade, aumentou-a porque era autêntica e genuína tal como o vento que apaga a vela por ser  fraca e ateia os fogos  que são fortes.
Pois uma dessas amigas, radicada na Califórnia, Maria da Conceição Dias da Silva, esteve de passagem pelos nossos Açores e pela nossa cidade, faz quatro anos, e nós quisemos dizer-lhe isso mesmo, que a amizade e admiração aumenta com a distância quando é verdadeira, reunimo-nos com ela, a almoçar, num restaurante da nossa cidade e passeamos pela nossa marina, despretensiosas, despreocupadas e alegres como se fossemos as adolescentes de então.
Antes porém ao almoço dissemos à amiga Conceição que:

 Amizade:


Amizade é brisa suave,
Que ultrapassa os verdes montes,
Atravessa mares e oceanos
Palmilha Planícies e vales
Resiste ao tempo, aos anos…

Amizade é vento forte,
Que abana os mais distraídos,
Lembrando os tempos passados
Na cumplicidade vividos,
Com nostalgia recordados…

Amizade é um vento húmido,
Que entranha todo o nosso ser,
Transformando a ausência em presença,
E nos faz de saudade estremecer,
Envolvendo o amigo na lembrança…

Amizade é ventania,
Que ao passar do tempo resiste,
À Distância que a vida obriga
E à ausência que existe
E faz da saudade cantiga...



Esta nossa amizade,
Foi brisa suave,
Foi vento forte e húmido
E ventania….

Resistiu ao tempo,
À ausência,
À distância
À Vida…

E trouxe-nos este belo momento
Que não queremos esquecer…
Guarda-lo-êmos no pensamento
Enquanto pudermos viver!!!


Pois foi isto que dissemos à amiga Conceição Dias da Silva, por entre comoção e algumas lágrimas, com um pedido do grupo para voltar  para podermos, mais uma vez, estar com ela numa tarde tão agradável com a que vivemos naquela tarde de 2011!
A nossa colega e amiga Conceição Dias em 1963, antes de emigrar:




Se Maluda tivesse vindo à Terceira

Se  Maluda tivesse vindo à Agualva na Ilha Terceira ...
Fui à abertura das festas da Agualva, e dei por mim a  Pensar na Maluda, pintora muito premiada e admirada, nascida em 1934 em Goa na Índia quando ainda era   possessão portuguesa Tendo vivido a Partir de 1948 em  Maputo onde começou a pintar.
Viajou depois para Portugal onde começando a interessar-se pelo retrato e pela paisagem urbana. A Partir de 78 dedicou-se à temática das janelas procurando utilizá-las como metáfora da composição público privada, acabando por falecer em 1999 com 64 Anos.
Esta pequena biografia fui Pesquisá-la à Wikipédia porque não conhecia estes pormenores da vida da grande pintora, o que conheço muito bem são as reproduções dos seus trabalhos sobre as janelas que adoro e foi por isso que dei por mim a pensar na artista e a dizer  com com os meus botões:
Se Maluda tivesse  estado cá, teria de certeza, pintado esta Janela Agualvense !!!

terça-feira, 18 de agosto de 2015

Lentidãodesalmadaeirritante....

Alguémmeexplicaporqueseráquequandoestouaocomputadorecommuita pressaeleficalentoeirritantedestamaneira???

Se os Portugueses fossem como os lhamas...

Lhamas ou lamas são mamíferos ruminantes da América do Sul pertencentes à família dos camelídeos. Têm pelagem longa e lanosa e são domesticados para utilizar no transporte de cargas e na produção de lã, carne e couro. Vivem nas cordilheiras dos Andes, onde a temperatura é muito baixa, sendo protegidos pela sua pelagem que também os protege de arranhões e de outros ferimentos, são animais calmos, andam devagar mas irritam-se facilmente.
A informação que escrevo acima fui-a procurar na Wikipédia, agora o que não diz lá, e que eu já sei há muito tempo, é que são animais interessantes e curiosos porque aceitam carga até 60 kg., mas exigem respeito por esse limite, quando se vêem sobrecarregadas sentam-se e ficam impassíveis, recusando-se a trabalhar, se forem forçadas ou se lhes baterem, desatam aos coices e cospem os agressores, muito ressentidas e furiosas.
Animal inteligente, que nos leva a pensar que se os portugueses fossem como ele, já há muito que estariam aos coices contra as pessoas que lhes atribuem tão pesada carga de impostos sobre os seus salários e outros  rendimentos !
Ora tomem, senhores governantes !!!

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Frascos de "Pharmácia"

Nos finais do séc. X apareceram, em alguns conventos em França as " Apotecas" ou " Boticas", tetravós das farmácias actuais, as quais guardavam o respectivo material em caixas de couro ( ervas e plantas), em potes de estanho (Gorduras, pomadas e unguentos), recipientes de ferro (óleos medicinais) e vasilhas de cerâmica ( vinhos e vinagres). Mais tarde estes recipientes foram substituídos por recipientes de majólica e porcelana, surgindo com o tempo frascos de vidro de vários tamanhos, alambiques , funis, o frasco de medidas, serpentinas, retortas, filtros, peneiras,  e prensas para extrair o sumo das plantas.
Claro que esta evolução levou séculos e estes apetrechos confinavam-se  às boticas dos conventos e eventualmente das casas reais, só muito mais tarde , ao longo do séc. XIX, um período da história que se caracteriza pelo avanço tecnológico, intelectual, pela elegância e romantismo e no início do séc. XX, houve enorme evolução em toda a Europa, em especial em França dos fármacos que eram então guardados em bonitos frascos de vidro, devidamente rotulados.
Ao longo do tempo, fui comprando alguns desses frascos, com o intuito de decorar uma casa de banho, não tendo noção de que eram objectos de colecção, muito procurados e com algum valor. Aqui estão alguns deles:


 

Sonhar acordada:

Sempre achei que sonhar acordada não faz mal a ninguém. Aliás, sou muito de sonhar acordada, o pior é quando acordo e dou por mim com a realidade nua e crua! A maioria dos meus sonhos são de carácter remoto, difíceis de realizar:
Ora sonho fazer um cruzeiro à volta do mundo, vendo-me sentada no convés do navio,tomando um delicioso refresco, protegida por um lindo e elegante chapéu de grandes abas, ora sonho publicar um livro de memórias, caindo depois na realidade e concluindo que não tenho nada de relevante para contar e ninguém estaria interessada no que eu eventualmente contasse. No entanto, a força do hábito é um mal de difícil cura e hoje voltei a sonhar acordada, sentada à mesa, à hora do almoço.
Tendo homens de trabalho para almoçar, resolvi logo pela manhã, fazer uma suculenta sopa e um arroz que acompanharia torresmos, comprados na Salsicharia Pavão, que fica aqui perto.
O problema foram os torresmos todos XPTO, como diz o meu filho, muito bem acondicionados numa caixa de plástico rectangular.
Antigamente, sonho eu, no dia da matança do porco era uma alegria, e no outro dia uma abundância de torresmos em grandes pratos de barro que a minha mãe acondicionava nas gordureiras e cobria com banha fervente e borbulhante e como não havia frigoríficos nem arcas congeladoras a carne era acondicionada e salgada em grandes salgadeiras e assim tínhamos carne para todo o ano. A minha mãe separava as partes do porco conforme a finalidade que lhe ia dar, assim como os torresmos uns para o Carnaval outros para o Natal etc. etc. etc. E que bem que sabiam e que delicioso cheiro se desprendia do negro panelão de ferro que derretia as carnes para os torresmos!
- Então não se come- diz o meu marido - e lá acordo eu do meu sonho e almoçamos porque homens que trabalham duro têm sempre fome!
A verdade é que o meu nostálgico sonho tem uma certa razão de ser é que vivemos num tempo de muitos saberes, muitas evoluções, muito racionalismo mas de sentir pouco. Na história da matança do porco, de que te acabo de contar um pequeno pormenor, há paz , segurança e tranquilidade e até mesmo, quanto a mim, uma certa dimensão espiritual.



Caridade...

Não sou a Madre Teresa de Calcutá...

Preciso ser mais caridosa, devo ser mais caridosa, tenho que ser mais caridosa. Aliás, precisamos, devemos e temos todos que ser mais caridosos.
Mas, há sempre um mas, nestes últimos tempos tenho sido pouco caridosa, pouco paciente, tenho andado mais cansada e "salta-me a tampa" muitas vezes, confesso, especialmente quando vejo injustiças e as pessoas a quererem passar por cima dos outros, desvalorizando-os e fazendo tábua rasa do valor, da sabedoria e do esforço dos mesmos, esquecendo que:

Caridade:

-É o silêncio, quando as nossas palavras podem magoar.
-É a paciência, quando o nosso vizinho é brusco.
-É a surdez, quando rebenta um escândalo.
-É a consideração, quando os outros são atingidos pelo infortúnio.
-É a prontidão, quando o dever nos chama.
-É a coragem, quando a fatalidade nos visita.

Concordo, concordo, concordo, mas muitas vezes não consigo!
Que diabo, não sou a Madre Teresa de Calcutá!