domingo, 5 de junho de 2022

Em dia de Pentecostes

Estando a decorrer, o ciclo do Sr. Espírito Santo, na ilha Terceira, Açores, com o brilho, luz, e devoção costumados, depois de um interregno de dois anos, devido aos motivos que todos nós conhecemos, celebrou-se hoje o Pentecostes, palavra  de origem grega que significa cinquenta dias, quer dizer que após a Páscoa já se passaram cinquenta dias.

Estando eu a ler " O LIVRO DE OURO DAS NOSSAS LENDAS E TRADIÇÕES" compilação de José Moutinho e ilustrado por José Faria, nem de propósito, deparei-me com uma lenda recolhida,  na vila do Topo,  na Calheta de São Jorge, a qual reza, em traços largos o seguinte:

Havia no Topo um casal que vivia muito triste porque não conseguiam ter filhos, vai daí prometeram ao Sr. Espírito Santo " O gasto do Domingo do Espírito Santo" se a mulher engravidasse. Passados tempos a mulher engravidou, enchendo aquela família de alegria e o homem comprou um enorme boi, sem que o vendedor fizesse qualquer recomendação. O que ele não sabia é que o animal estava habituado a viver em liberdade e, querendo tratá-lo bem, para que a carne fosse de primeira, meteu-o num espaço fechado, mas o animal não gostou da prisão e furioso rebentava com tudo à sua volta, o homem ainda mais furioso do que o animal desatou a bater-lhe no focinho com uma foice até ele ficar calmo e todo ensanguentado e quando  a mulher lhe pediu para  parar  respondeu:

-Não faz mal que que é para o Espírito Santo! 

 Passados nove meses, nasceu uma menina, a qual para grande desgosto dos pais tinha o rosto marcado com  cicatrizes  idênticas aos golpes que o homem tinha provocado no boi, tendo sido criada, escondida da população do Topo saindo sempre com a cara tapada...

Claro  que lendas, são histórias que no fundo têm sempre algo de verdade, e que o povo procura explicar com a imaginação o que muitas vezes não consegue explicar com a razão. Contudo, quero aqui reforçar, o que ouvi muitas vezes aos meus pais: - Com o Sr. Espírito Santo não se brinca!

E aqui te mostro, numa ilustração de José Faria, a pobre mãe, muito grávida, como dizia o meu filho, quando via uma senhora em estado avançado de gravidez, e o homem irado de foice na mão.