domingo, 28 de dezembro de 2014

Soquetes e Meias de vidro



Conta-se que quando do casamento do rei Filipe Quarto de Espanha que viveu entre 1605 e 1665, não sei qual dos casamentos, pois casou em primeiras núpcias em 1615  com Isabel de Bourbon e mais tarde em 1649  com Mariana da Áustria, a noiva em viagem para Madrid, ia sendo recepcionada festivamente em todas as cidade, numa das quais recebeu de presente de casamento uma caixinha dourada sobre uma almofada de veludo. Ao abri-la a rainha, horrorizada,  Deixou-a cair. O marechal da corte olhando pra o presente, viu que era um par de meias de seda, devolveu a caixa dizendo:
-Uma rainha não tem Pernas!
Esta história parece cómica, no entanto se nos reportarmos àquela  época em as mulheres usavam saias compridas , não deixando que se visse nem a ponta dos pés e era considerado o cúmulo do atrevimento pensar nas pernas da rainha, compreende-se perfeitamente a atitude da pobre rainha embora , eu tenha quase a certeza que ela estava mortinha por aceitar tal presente,  porque na altura um par de meias de vidro era um artigo precioso, raro e de luxo...
Isto tudo passa-se há cerca de quatro séculos contudo este natal pensei muito numa outra história relacionada com meias de vidro. 
 No Natal de 1962, tinha eu 14 anos, era uma rapariga cheia de ambições e sonhos,  mas descontente com as roupas que usava pois considerava-as inadequadas à minha idade, nesta idade o que nós queremos mesmo é parecer mais velhas! O pior de todos os meus males eram aquelas soquetes ( francesismo que vem de socquette), umas meias curtas até ao tornozelo e que a minha mãe arranjava maneira de as fazer condizer com o que eu vestia... Que coisa mais antiga,imprópria e infantil-Pensava eu, triste e desanimada por não ser compreendida nas minhas pretensões... O que eu sonhava mesmo era usar  meias de vidro, transparentes e bem esticadinhas  que me fizessem parecer uma mulher, de preferência com uma  risca atrás!
Até aquele Natal, embora pondo o sapatinho, no lar, como todas as crianças, normalmente encontrava lá uns figos passados ou umas guloseimas e nesse ano esperava, sem grande entusiasmo, o mesmo. Contudo, ao levantar-me e ao olhar para o lar, alguma coisa brilhava de modo diferente, o meu coração pulou, os meus pés voaram e como que por magia tomei nas mãos as meias de vidro mais bonitas que qualquer mulher pudesse ter, penso que até mais bonitas do que as que há séculos atrás tinham oferecido à noiva do rei de Espanha Filipe Quarto.
Penso que foi nessa altura,  nesse dia de Natal de 1962  e por causa de umas meias de vidro que me tornei mulher! 

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