sexta-feira, 29 de dezembro de 2023

Presentes de Natal:






Estas pequenas peças de alumínio, metal branco, leve e inoxidável, que guardo religiosamente desde a década de 50, muito bem embrulhadas, no fundo de um armário, fizeram-me pensar e interrogar sobre os presentes que as crianças de hoje recebem pelo natal e se lhe darão tanta alegria, como este presente me deu. Muito foi o que brinquei, muito imaginei , muitas sopas imaginárias fiz nestas pequenas panelas que punha sobre o fogão a petróleo, cópia do fogão "primus", antepassado do fogão a gás e substituto do fogão a lenha. Sim senhora, euzinha, servi muitos almoços e jantares, muitos cafés e estrelei muitos ovos nestas miniaturas!

O que eu gostava de saber é se  as crianças de hoje guardarão alguns dos seus presentes ou se porventura se lembrarão deles daqui a sessenta ou setenta anos com o mesmo carinho que eu sinto pelo meu presente de natal de há setenta anos...

Concluo dizendo que, entre as minhas riquezas mais estimadas estão coisas sem valor material mas que fazem grande sentido para a pessoa em que me tornei!







 

segunda-feira, 25 de dezembro de 2023

SINOS DE NATAL:

DLIM, DLIM, DLIM, DLIM...













 Dlim, dlim, dlim, dlim...

Tocam os sinos pequeninos,

Anunciando à pequenada,

Que nasceu o Deus Menino

Numa gruta encantada.

Dlim, dlim, dlim , dlim...

Estes sinos pequeninos

Espalham  à nossa volta  magia,

Tornam os tempos perfeitos,

Imbuídos  de  doce alegria.

Dlim, dlim, dlim, dlim...

Embora com suave som,

Os sinos lembram os adultos,

Que devem fazer melhor,

Que devem ser mais sensatos,

E ignorar os insultos.

Dlim, dlim, dlim, dlim...

Estes sinos pequeninos,

 Acordam os homens da guerra,

E lembram suavemente,

Que querem paz de volta à terra,

Paz, paz, eternamente!


Clara Faria da Rosa,

Natal de 2023







domingo, 24 de dezembro de 2023

A simplicidade do meu presépio











 O meu presépio não tem gruta

Nem o galo nem galinha

Tem o Menino na palhinha

E tem  uma vontade bruta

De um nascimento festejar...

Ao meu presépio faltam os reis

O burrinho e a vaquinha

Faltam os musgos e as leivas

Mas tem uma simplicidade serena

Que um nascimento requer...

E é com esta forma simples

Que a todos quero desejar

Uma consoada  serena

Semelhante à desta família

Que há dois mil anos  se formou!


Clara Faria da Rosa 

Natal de 2023



sexta-feira, 25 de agosto de 2023

O meu septuagésimo quinto aniversário:


Como alguns saberão, fiz anos no passado dia doze, já são muitos mas, tenho resistido às intempéries...
Nesse dia tenho por hábito tirar uma fotografia, gosto de comparar com a do ano anterior, de contar as rugas que ganhei e de ver se ainda posso ler alguma alegria e entusiasmo nos meus olhos, enfim, coisas da Clara... 
Na verdade, embora me custe acreditar, são muitos anos, muitas vivências, muitas derrotas e alguns sucessos. Pensando nisso vem-me à memória a história de um professor que morava perto da escola pelo que  habitualmente ia a pé, num certo dia resolveu acender o cachimbo mas, como o vento estava de feição teve de se voltar de costas, cachimbo aceso, começa distraidamente a caminhar até que chega a casa sobressaltando a mulher que não o esperava tão cedo. Alertado, volta pelo mesmo caminho encontrando os alunos admirados com a demora pois era, habitualmente, assíduo e pontual. Explicação do professor: -Andei a pensar na vida!
Embora não fume, gostaria de ter um cachimbo, para acender e para que, como por magia, pudesse voltar ao início desta aventura de setenta e cinco anos, para ter oportunidade de refletir e de fazer escolhas quiçá  mais acertadas. Não sei se mudaria muita coisa, talvez mudasse alguns caminhos, algumas estradas secundárias, algumas canadas... sei lá!  do que tenho a certeza é que tentaria ser mais educada e já teria agradecido a delicadeza de todos os meus amigos, amigas e conhecidos que,  quer por mensagens escritas, quer através de telefonemas ou presencialmente me felicitaram por ter atingido esta venerável data. Não peço desculpa porque, como disse uma amiga que hoje me telefonou a felicitar-me " entre amigos não há que pedir desculpas".
Vamos vivendo e, como o professor da história, pensemos na vida e aproveitemos as coisas boas que ela nos vai dando, quer tenhamos vinte, trinta, cinquenta, setententa ou noventa anos...
OBRIGADA A TODOS PELA AMIZADE E CARINHO!
 

segunda-feira, 7 de agosto de 2023

Do trigo dourado aos pássaros de ferro:

 Do trigo dourado aos pássaros de ferro:

Tema do cortejo das festas da Cidade da Praia da Vitória muito bem escolhido, quanto a mim, sobretudo pelo seu aspecto pedagógico que tem sido bastante descurado na voragem dos tempos, outros valores se levantam, não é agradável lembrar certas coisas e, como referiu a professora Judite Parreira, organizadora e criadora do evento, as escolas da Terceira inexplicavelmente não se têm dedicado a explorar o assunto...Os programas e compêndios são feitos a  nível nacional e assim vamos nós nesta ignorância da nossa história e das nossas raízes.

Quanto a mim, embalada nesta história que é a história da minha família "bebi" todos os pormenores, todos os apontamentos e lembrei-me  desta fotografia  que trouxe  de casa dos meus falecidos pais: 

Carros de pacientes bois, bem carregados de molhos de espigas de trigo, na debulhadora à espera de serem debulhados para serem transformados no trigo que depois daria o pão alvo como diria Vitorino Nemésio.






segunda-feira, 24 de julho de 2023

Até ao lavar dos cestos:


 Até ao lavar dos cestos:

Dizem os  antigos que até ao lavar dos cestos é vindima, estou a lembrar este adágio para fazer referência à festa das Bicas de Cabo Verde na freguesia de São Pedro  de Angra do Heroísmo que se realizou no passado mês de junho mas que,  na realidade, foi encerrada em assembleia geral no dia 22 com a prestação de contas pela comissão de festas cessante e pela nomeação da nova comissão para as festas de 2023/2024. Deste modo, "lavaram-se os cestos! e, em jeito de despedida, aqui vai esta fotografia tirada depois do terço, à porta do império, pedindo saúde e vida, para que nos possamos reunir no próximo ano unidos na fé ao Divino Espírito Santo.

sexta-feira, 7 de julho de 2023

 Coroação das Sanjoaninas :

Foi coisa linda de se ver
Foi coisa para comover ,
A ilha disse presente
E o povo esteve contente.
Nuvem branca vestiu a criança
A freguesia trouxe a "briança",
As bandeiras de brocado carmim
Abanavam num saudar sem fim,
Com laboriosos bordados
De fios ricos e dourados,
E as coroas de prata reluzente
Abençoavam o crente e o descrente
Porque:
A ilha esteve presente
E o povo ficou contente!
Clara Faria da Rosa

Foto da Net.

segunda-feira, 12 de junho de 2023

 

O QUE ESTÁ NO ALTO:

A palavra altar, vem do latim "altare" com o significado de altear, elevar, destacar no alto, pelo que aqui vos mostro o nosso "altare "  2023 no Império das Bicas de Cabo Verde, São Pedro de Angra do Heroísmo, muito bem decorado pelas mãos habilidosas de Ana Soares, isto porque o que está  no alto é merecedor das mais lindas e ricas flores e sobretudo da nossa veneração, da nossa devoção e da nossa adoração e das nossas orações.

Foi por isso que ao longo da semana que se passou nos acercámos deste altar e elevámos os olhos até ao que está no alto, dirigindo-lhe as nossas orações, pedindo perdão pelas faltas cometidas e forças para continuarmos a nossas caminhada até   ao próximo ano.



Foto de Susana Semião

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sábado, 27 de maio de 2023

Em Sábado de bodo:

VIVA O SENHOR MORDOMO!




 Por esta ilha em redor tem-se vivido uma festa que eu diria "Festa Redonda", pois não há freguesia nem localidade que não  celebre o Divino Espírito Santo, que culmina com os domingos do Espírito Santo e da trindade que designamos pelo 1º e 2º bodos.

O mordomo é o encarregado de providenciar o pão que dará à despensa um colorido e odor especiais. Deste modo, em tempo apropriado, passou por todas as casas da freguesia a "pedir para o bodo" e cada um se comprometeu a colaborar conforme as suas possibilidades.

No Sábado que antecede estes dias é uma alegria, o mordomo convida amigos e familiares para um almoço, ao qual  se segue um cortejo  com carros enfeitados  que transportam açafates decorados com alvas e ricas  toalhas,  carregados de brindeiras de pão de água com as suas airosas cabeças a espreitarem a paisagem.

Então, a criançada, numa alegria própria do dia que cumpre uma tradição que celebra o sagrado e o profano, que eles não entendem, mas sentem, através das pegadas dos pais e outros familiares, sobem aos carros de bois e vão gritando:

-VIVA O SENHOR MORDOMO, VIVA O SENHOR MORDOMO!!!

E ele bem merece, não fora o seu árduo trabalho, a sua fé, devoção e espírito de cidadania, no dia do bodo não haveria pão nem vinho a distribuir em abundância...


domingo, 21 de maio de 2023

BODAS DE OURO:


As estatísticas dizem que, nos E. U. A., só cinco por cento dos casais chegam às bodas de ouro, por cá talvez as estatísticas se assemelhem, não sei, o que sei é que este casal, os nossos primos Maria Adelaide e Manuel Enes tiveram a força, a saúde e a resiliência para lá chegar e ontem estiveram em festa para celebrar esse feito. Não pudemos estar com eles, mas não os esquecemos. Por isso, brindamos ao seu duradouro casamento, um brinde bem terceirense com as tradicionais donas amélias e um licor de maracujá ou um chá bem quentinho, conforme a preferência.
À vossa saúde e que sejam felizes por muitos mais anos. 
Abraço muito amigo!







 

domingo, 14 de maio de 2023

Da cantaria à máquina de lavar:


 Quando, em Novembro de 1943, os ingleses chegaram à ilha Terceira, nos Açores, para construírem a pista da futura base das Lajes , as casa localizadas na àrea da pista foram desocupadas e posteriormente demolidas. O meu avô paterno Joaquim Fernandes Homem vivia no local, nas Bugias,  com a sua família e viu a sua casa ser demolida em 1944. Entretanto, os ingleses construíram habitações para os desalojados, duas aldeias, a aldeia Nova Das Lajes e a Aldeia Nova do Juncal.

Lá veio a minha família paterna, para a Aldeia Nova das Lajes,  com os seus carros de bois atulhados com os "trastes", porcos e galinhas, trazendo também algumas cantarias entre as quais uma enorme onde havia sido escavada uma pia para se lavar a roupa.
Dois anos depois casam os meus pais e a minha mãe "ganhou" uma máquina de lavar roupa... Muito lavou e esfregou nela e muita sabonária fez, com sabão azul e branco, que era o que havia, até eu também lá pratiquei e milagre dos milagres nunca avariou nestes  cerca de 80 anos! Portanto, se tens a tua máquina de lavar roupa avariada, empresto-te esta, é do coração!

sábado, 6 de maio de 2023

EM LOUVOR DO DIVINO ESPÍRITO SANTO:

 Ceia dos criadores,

Está tudo a postos  na dispensa do Império de Bicas de Cabo Verde para a tradicional ceia dos criadores. A comissão esmerou-se e empenhou-se e espera a presença de todos os convidados e familiares para abrilhantarem e colorirem este evento, tudo em louvor do DIVINO ESPÍRITO SANTO...

















sexta-feira, 5 de maio de 2023

 

No dia da mãe:




 Matrioskas:
Sempre que olho, abro ou manuseio, para limpar, esta tosca boneca de madeira, penso na maternidade e no facto de uma mãe dar à luz vários filhos que por sua vez se reproduzem, embora nunca tenha aprofundado o significado desta boneca, vai daí que no dia dedicado às mães, nem que nos outros dias as mães se despissem desta qualidade, decidi investigar  e fiquei sabendo o que já sabia empiricamente e por intuição que:
" Matrioska é um brinquedo artesanal russo  que se baseia na reunião de uma série de bonecas de tamanhos diferentes que são colocadas umas dentro das outras. Esta boneca simboliza a fertilidade, a ideia de maternidade, amor e amizade; O facto de uma boneca sair de dentro da outra representa o parto, quando a mãe dá à luz os seus filhos e depois as filhas repetem o exemplo das mães  e assim sucessivamente".
Afinal uma mãe não é mais nem menos do que uma Matrioska que dá vida aos filhos conservando-os dentro de si, protegendo-os no quentinho do seu coração, sofrendo as suas dores  e alegrando-se com os seus êxitos , esquecendo-se muitas vezes, de si, para que aos filhos não falte nada.




quinta-feira, 27 de abril de 2023

Os botões da minha infãncia:

 


Abri a caixa dos botões, e dei por mim a olhar um conjunto de botões que apertei na palma da minha mão, com carinho e saudade e me levaram à minha meninice e à história que te vou contar:

Era um Domingo de manhã e a minha mãe resolveu ir mais cedo para a igreja, na freguesia das Lajes, hoje vila, para rezar as suas orações, antes da missa. Lá me levou  a reboque, com o meu casaco de feltro vermelho, muito macio e quentinho, assertoado, com quatro botões que, com a luz, na minha imaginação, me pareciam estrelas. Naquele tempo havia botões muito bons e bonitos...

Chegadas, lá se pôs ela a rezar e eu, sentada  no  banco, com as pernas a balouçar, a olhar, com enfado, para todos os santos e à procura de distração. No banco à frente outra senhora, muito enroupada e bastante anafada, encorpada, também rezava muito concentrada. Sempre o mesmo, nada de diferente que me distraísse... eis se não quando, chega nova personagem, uma senhora com as mesmas características da primeira que  lhe pede para a deixar passar para se ajoelhar a seu lado, a senhora não se levantou, só se inclinou para trás e a desgraçada tenta passar, mas a roupa era tanta e o encorpamento não ajudava que ficaram ali as duas "entaladas" como sardinhas em lata, nem para trás nem para a frente e eu de olhos arregalados a rir, a rir que nem uma perdida...

Quando minha mãe se apercebeu do que se passava bem que me fazia cara feia e apertava o braço para que eu tivesse tino o que só passou quando a senhora lá  deu um certo jeito, deslizou e conseguiu libertar-se daquela prisão, vermelha nem um tomate, tal fora o esforço!

Vindas para casa, a minha mãe não se cansava de contar a meu pai, o vexame por que tinha passado comigo , ao que o meu pai dizia mais ou menos isto:

- Deixa lá mulher, contra um ataque de riso não se pode fazer nada! Ao que, eu à distância destes quase setenta anos, acrescentaria: - e contra um ataque de choro também não podemos fazer nada! Só nos resta rir ou chorar e no fim ficamos com a alma lavada...

Quem me dera ter vontade de rir, como naquela altura, aquele riso inocente, cristalino e saboroso, mas agora não é tão fácil!




domingo, 23 de abril de 2023

 A Grandeza de um livro:

Abro um livro
e fujo ao vazio, à monotonia,
à solidão e à melancolia
e, sem me aperceber,
afasto-me…
de dores, maldades, espinhos
das maledicências dos outros.
Folheio um livro
e logo, logo, percebo
a vida, a alegria e a tristeza,
a saudade, o amor e a beleza,
o horror de tanta maldade,
e o valor da igualdade,
porque ele me ajuda a perceber
as várias vertentes do meu percurso,
as diferentes cores de um discurso.
Acaricio um livro
e torno-me criativa,
imagino o Mundo, as culturas,
os povos e muitas aventuras…
e do livro brota uma semente
que lançada à terra quente
se torna em rica colheita
de plena satisfação,
de grande realização.
Olho um livro
e começa o meu sonho,
o meu acreditar,
que num livro há uma grandeza
que me puxa e me empurra
para um lugar de grande beleza
onde impera a verdade
a cultura e a felicidade!
Clara Faria da Rosa
23/04/2023
(Dia Internacional do Livro)
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terça-feira, 11 de abril de 2023

 Brinquedo raro e histórico:

Lembro-me muito da minha infância, época calma em que era tratada com mimo e carinho e que, a esta distância, me parece ter sido maravilhosa. Quando a recordo sinto-me como que iluminada por uma luz interior que me deixa muito feliz.
Guardo uma recordação muito viva de Páscoas distantes em que não havia essas deliciosas amêndoas nem os coloridos ovos de chocolate que nos deliciam, ou talvez existissem só que não era com tanta abundância e também não abundava o dinheiro para os comprar que, como dizia a minha mãe, não era para gastar nessas "frescuras" mas em coisas mais necessárias! Pronto e lá ficávamos pelos folares, que ela cozia no formo de lenha, nos quais punha ovos em abundância porque não eram comprados.
Portanto a nossa Páscoa era: folares. igreja, igreja, igreja, a ceia grande e o dia de Páscoa com um almoço melhorado, mas tudo de casa... Lá ia a minha mãe ao curral e agarrava a melhor galinha para esse dia!
Porém, na primeira metade da década de cinquenta, calculo eu, aconteceu uma coisa extraordinária para mim, recebi de presente duas pequenas galinhas de plástico duro, uma branca e outra amarela, que ao serem pressionadas abriam as asas e punham pequenos ovos de plástico !
Passei toda a Páscoa sentada na mesa da cozinha a brincar, de tal modo que um dos brinquedos se partiu, ficou o que te mostro, que considero um brinquedo raro e histórico, quando o olho, um sorriso enorme desenhasse-me no meu rosto e rodeia-me um cheiro da minha infância que me lembra tudo o que se tinha apagado da minha memória!
Boa Pascoela.
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