segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

Uma segunda oportunidade!



                                      
Tinha sido um lindo vestido, de bom tecido, bom corte, bem confeccionado e com um brilho apelativo; Tinha ido a festas e casamentos, fizera a sua época, sentira-se bem no corpo da sua dona, ajudando-a a fazer boa figura e a atrair olhares, mas tudo isto passara... Agora não passava de um trapo, amarrotado, estragado e com passagem de traças que tinham deixado as suas marcas!
E foi aí que eu, tendo pena e apreciando aquele lindo tecido, resolvi desmanchá-lo, lavá-lo e reaproveitá-lo. Enquanto procedia a esta reciclagem pensava:
- Na verdade, o que se está a passar com este velho vestido é o que se passa com a vida que oferece sempre segundas oportunidades para quem tiver capacidade para reconhecê-las e coragem, força e vontade para agir! Temos é que saber procurar o que nos está faltando naquilo que temos... quer seja  na felicidade, na  realização pessoal ou num simples acto de reciclagem.
O meu vestido parece ter tido sorte, transformou-se num lindo pano de mesa que servirá de base a um agradável encontro aquecido por um cafezinho fumegante .
Ora diz lá se não valeu a pena esta segunda oportunidade que dei ao vestido, foi tudo aproveitado, até a fita da bainha serviu para debruar à volta. Ousa dar uma segunda oportunidade às roupas  que já não usas e faz lindos trabalhos quiçá bonitos presentes de Natal!









Quando a linha da vida se parte:
É, desde sempre, que me lembro desta caixa, no canto do estrado, na minha casa das Lajes; Era o trabalho leve da minha mãe!
Ao
s Domingos íamos à missa, almoçávamos, a minha mãe levantava a mesa e lavava a louça e, como não se trabalhava ao Domingo, ela sentava-se a fazer um trabalhinho leve, o seu crochet... a minha mãe sempre foi uma mulher determinada que se deu à vida e ao trabalho, não era ociosa nem sequer tinha passatempos, estou em crer que ela nem conhecia esta palavra: Passatempo...
E sempre foi assim, até ao fim, de tal modo que quando faleceu, andava a fazer uma renda para um lençol.
Partimos, mas as coisas ficam, e lá ficou a caixa, abandonada no canto do estrado, como se também tivesse perdido a vida .
Ao abri-la, deparei-me com o trabalho inacabado e pensei como a vida é repleta de imprevistos e como nós nunca consideramos que a meta foi atingida, é muito difícil considerar que a nossa actividade terminou, só se por infortúnio do destino, isso acontecer inesperadamente, como foi o caso.
Num rasgo de saudade e de impotência, perante a dura realidade, emoldurei, como recordação, o trabalho inacabado assim como a farpa com que a minha mãe fazia o seu crochet.
Já lá vão muitos anos, contudo ao olhar para estes objectos lembram-me sempre, naturalmente, a minha mãe e, como é efémera a linha que nos agarra à vida, a qual pode ser quebrada a qualquer momento.
É por isso, para que tenhamos esta realidade sempre presente, que conto esta h
istória de uma mulher que "crochetou" a vida com muita garra e determinação, até que a linha se quebrou!