sábado, 24 de fevereiro de 2024

As voltas da vida:

















O meu pai era agricultor, pelo que vivíamos do produto do seu trabalho na terra e da criação dos animais, comprávamos poucas coisas, tínhamos produtos hortícolas com abundância, frutas da época, milho e trigo que depois de moídos eram transformados em fornadas de pão, tínhamos sempre galinhas em abundância , porcos e vacas. Logo pela manhã o meu pai saía de casa com o seu traje de cotim e "Jaqueta" no ombro para ir tirar leite às vacas depois do que ia até ao engenho/desnatadeira deixar o leite para ir para a fábrica dos laticínios, não sem antes apartar o necessário para o gasto de casa, lá trazia uma bilha reluzente com o leite ainda quente, do mojo da vaca, para a minha mãe preparar as sopas de leite com pão de milho migado que eram acompanhadas com peixe frito, linguiça frita, algum torresmo que a minha mãe tirava da gordureira ou outra iguaria, também fazia queijos e fervia o restante que, depois de frio, formava à superfície uma crosta de nata que era guardada numa tigela com um pouco se sal. A tigela ia-se enchendo até quase a transbordar aí, a minha mãe fazia biscoitos de natas ou  anunciava: - Está na altura de serem batidas! Então, eu sentia um calafrio na coluna porque percebia logo que era tarefa que me estava destinada!

Batia, batia, batia - não havia batedeiras eléctricas - até que, como que por magia, aquele creme se transformava na mais bela manteiga que jamais viria a comer. Pode haver manteiga de muitas marcas, de muitas fábricas , com sal, sem sal,  gorda  e magra, se bem que eu não compreenda como é que a manteiga possa ser magra, mas não há nada que se compare àquela manteiga sobre uma fatia de pão caseiro, penso que os da minha geração me compreenderão!

Foi-se a lavoura, a vida mudou, e eu comecei a frequentar a casa dos meus sogros e não é que por acaso deparo-me com um objecto que me era estranho, um grande frasco de vidro, com umas pás de madeira na tampa, que eram introduzidas no interior do frasco e que giravam quando se rodava   uma manivela com cabo também de madeira. O desconhecido objecto, segundo me disseram, fora trazido da América pelos avós do meu marido no início do século passado, década de 20, com a inscrição: DAZEY CHURN M.F.G.  Nº20 - MADE IN ST. LOUIS - U.SA. 2QT e tinha a finalidade de bater manteiga.

Fiquei espantada e desiludida. Afinal, quando tínhamos  vacas a dar leite do qual obtínhamos, artesanalmente, manteiga, não conhecia este precioso objecto, quando o descobri, já não havia vacas...  a vida, muitas vezes, dá-nos a volta!