domingo, 1 de março de 2020

As mãos do amor:


Olho as minhas mãos e vejo-as:
Grosseiras, ásperas, cansadas,
Olho as minhas unhas e vejo-as:
Baças, rombas, maltratadas...
Tento escondê-las e penso:
-Onde estão aquelas mãos
Finas, esguias e lindas
E aquelas brilhantes unhas
Rosadas e bem-tratadas?
-Aquelas mãos de menina,
Meu orgulho, meu tesouro,
Aquelas unhas de ouro...
Tudo isso já se foi,
Tudo isso é passado.
Aquelas mãos de então,
já muito, muito, amaram,
já muita massa amassaram,
já muita sopa prepararam,
Já muita mesa puseram,
já muita roupa lavaram,
já muitas tartes fizeram,
já muito bolo bateram,
já muito chão varreram,
já muita cera puxaram,
já muita erva arrancaram,
já muitos pontos deram,
Já muita mão encaminharam
E a escrever puseram,
Já muita palma bateram,
já muito, muito escreveram...
Aquelas mãos do passado 
Meu orgulho, meu tesouro, 
já muito, muito, amaram,
Já muito muito acarinharam,
já o meu pai lavaram,
já os seus olhos fecharam,
E continuam abertas 
Embora ásperas e cansadas
Para muito, muito amar
Para alegremente ajudar...
Porque amar vai muito além
De beijar docemente alguém,
Amar é agente esquecer
Que as mãos vão envelhecer
Amar é dar e amparar,
Ajudar,estar presente e  prever
Que o outro vai precisar
Das nossas mãos 
Ásperas e cansadas,
Das nossas mãos 
Grosseiras e calejadas!
 Clara Faria da Rosa