segunda-feira, 12 de setembro de 2022

Afinal, minha mãe estava enganada!

De carruagem para o céu....

Minha mãe, quando eu, jovem ou criança, estava impertinente querendo coisas que não podia ter, dizia-me muito séria: - Para o céu, não se vai de carruagem! - Naturalmente, não estava apensar em nuvens de algodão azul nem em subidas ao céu de asas a esvoaçar, queria dizer que temos que fazer sacrifícios e ser tolerantes para com os desaires da vida para nos tornarmos mais fortes e assertivos e encararmos as faltas e as dores com calma e sabedoria. Interiorizei este saber que me foi transmitido pela minha saudosa mãe e tenho-me contentado com o que a vida me vai dando, vivendo conforme as circunstâncias e aceitando as dores e os trabalhos que vêm até mim. Contudo, com  a morte da soberana da Inglaterra, a rainha Isabel, tenho-me questionado e concluído que tanto se pode atingir o auge da bondade, da simplicidade, da sabedoria, do amor ao próximo, da tolerância, de carruagem, de carro ou a pé, é só necessário calcorrear os caminhos que a vida nos depara com alegria de coração aberto e com espírito de aceitação

Que descanse em paz a rainha, decerto será lembrada pelos vindouros, não só pelas suas sumptuosas carruagens mas pela sua postura no cargo que exerceu e nos caminhos que percorreu.


 

domingo, 4 de setembro de 2022

 Vão-se lá entender os adultos! 


Estes são os meu avós maternos Maria Borges de Meneses 1895-1969 e António Machado de Almeida 1880-1949 que viveram e criaram os seus filhos em Santa luzia da Praia da Vitória, ilha Terceira. Por agora serem as festas nesta localidade, deu-me para pensar neles, sobretudo na minha avó pois do meu avô não tenho memórias, por ter falecido, tinha eu um ano.
Ia sempre passar as festas para casa da minha avó, o que para mim era uma alegria, pois era também uma oportunidade de conviver com os meus primos.
Guardo na minha memória muitas histórias desses tempos e hoje lembrei-me especialmente que no dia da procissão, depois do jantar, a minha avó vestia a sua casaca de brocado preto e a sua saia castanha, ajeitava o seu pelo com ganchos de osso e alisava bem o cabelo que prendia com bonitas travessas, punha a sua sombrinha no braço, pegava no missal e no seu terço e lá me levava a reboque para a missa - de - festa e sermão.
Era um martírio para mim, porque a avó era do tempo em que não havia carros e, por isso, tinha tendência para andar no meio da estrada e eu tinha que estar continuamente a puxá-la para a berma da estrada pois os carros dos americanos da base da Lajes, ali ao pé, quase no quintal, ferviam!
Na igreja era só gente de idade e adultos, as roupas cheiravam a naftalina e eu , aos pés da minha avó, sentada no pequeno banquinho de ajoelhar, olhava para o púlpito, para os torneados de madeira com uns anjinhos todos pretos, até as asas, e para o pregador, atónita, sem perceber nada, mas parecendo-me, a certa altura, perceber que ele ameaçava os presentes! Mas porquê se eu até fazia tudo o que me mandavam e rezava à noite as minhas orações?
- Avó, ele está zangado comigo?
-Cala-te rapariga, isto não são assuntos para ti!!!
Vão-se lá entender os adultos...