quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

O talhão da minha memória:

Quando, em criança, me encavalitava  neste talhão para dele tirar água, ou quando dizia para a minha mãe:- O talhão não tem água! ou ainda quando mais tarde, já adolescente, ajudava a minha mãe a transportar do poço, grandes baldes para abastecer o talhão, numa grande cumplicidade, para não se perder nada, pois ao tempo água era ouro, estava longe de pensar que a palavra talhão, regionalismo açoriano, tinha outras conotações...
Mais tarde, apercebi-me que a mesma palavra se aplica a um pedaço de terreno demarcado para cultivo isto é, uma unidade mínima de cultura numa propriedade, ou a uma porção de terreno para construção de um edifício e ainda a um pedaço de terreno num cemitério, infelizmente todos teremos a nossa última morada num talhão!
Mas eu não sabia, nem queria saber de nada disso, o que eu queria era levantar  a tampa daquele enorme e bojudo pote de barro, e de lá tirar com uma caneca de asa, feita das latas de conserva de fruta , vindas dos americanos que ao tempo habitavam a base das Lajes, na ilha Terceira, aquele regalo fresco e puro que  me saciava a sede depois de horas de brincadeira.
Veio a água canalizada, o que foi um avanço na nossa pacata vida, então o talhão virou  floreira  cujas flores nos sorriam à saída da porta do quintal, na casa da minha meninice , mudou-se o mesmo para a minha casa nas Bicas de Cabo Verde em São Pedro de Angra e não querem ver que o dito se transformou em Arranjo de Natal para nos alegrar os olhos e para te desejar umas Boas Festas de Natal:
Há lá coisa mais versátil do que um talhão de barro de Santa Maria nos Açores?!!


E os anjos disseram:
 - Não temais, eis que aqui vos trago Boa-Nova de grande alegria que o será para todo o povo!