Pondo a vida em pratos limpos:
Sentada, naquele banco do parque, a mulher de olhos tristes e ar desalentado, olhava alguns ramos ainda viçosos, e tufos de folhas verde-garrafa amontoadas à sua volta, e sentia as folhas que restolhando e dançando caíam lentamente, para repousarem até morrer. Triste, pensou que o Outono é um confronto com a morte da Natureza, meditando na analogia que havia entre aquela estação e a sua vida.
Era verdade que a juventude já não fazia parte da sua vida, já se fora, como as folhas que caíam das árvores, naquela estação, mas também se sentia suficientemente nova para viver afincadamente, e para desfrutar da beleza e do inesperado do seu percurso, para acreditar em si própria, para se assumir com os seus defeitos e virtudes, com as suas alegrias e tristezas, com os seus gostos e preferências por mais individuais e ou bizarros que fossem, de aceitar as suas transformações e mudanças...Porque afinal, o Outono dá lugar a outras estações, a novas transformações, a nova vida...
Às vezes acontecem momentos especiais que nos fazem alterar as nossas prioridades, foi assim, num destes momentos, no meio destes pensamentos, num parque repleto de folhas caídas, que a mulher de olhos tristes decidiu pôr a sua vida em " Pratos Limpos", alterar os seus objectivos, pensar mais em si, fazer as viagens com que sempre sonhara, experimentar e aprender o que lhe agradasse, conviver com os seus amigos com quem vinha sucessivamente adiando um reencontro, viver cada dia como se fosse o último, viver a vida! Compreendendo ser depositária de um mistério que ia muito para além da sua compreensão, um mistério que lhe dava a possibilidade de ser feliz, de fazer da sua vida um jardim tendo para isso de , simplesmente, plantar e regar a sua própria realização pessoal!