quarta-feira, 31 de outubro de 2018

E agora???

O antes e o depois.

Com neve ou sol no telhado,
Sou sempre a mesma mulher
Vivendo com muito agrado,
Tentando ao máximo colher
Tudo o que a vida vai dando...

Com neve ou sol no telhado,
loira, ruiva ou branquinha
Ou de acastanhados cabelos,
Sou sempre a mesma Clarinha
Dos idos e felizes tempos...

Com neve ou sol no telhado,
Não me sinto velha nem nova
Nem feia, nem mesmo bonita,
Sinto-me mulher que se renova
Quando minha vida se agita...

Com neve ou sol no telhado,
Sou uma setentona feliz,
Com  experiência bastante
Para saber de raiz
Que agradar a toda a gente
Só Deus, mas é quando calha! 

Clara Faria da Rosa
31/10/2018













sábado, 27 de outubro de 2018

Por Causa da Mudança da Hora

A história que te vou contar é muito antiga  e tem a ver com a alteração da hora , é uma história simples, mas que todos os anos era lembrada em nossa casa pela minha mãe um pouco envergonhada por ter caído num erro tão estúpido - dizia ela.
Acontece que o que nós temos de maravilhoso na vida é a capacidade de aprender com os erros  e de fazer sempre melhor, é o que ela dizia :- nunca mais comento semelhante asneira, agora vou estar mais atenta!
Mas vamos à história:  na noite que antecede a mudança da hora para o horário de Inverno, há muitos anos, não sei quantos, mas são muitos, minha mãe foi para a cama com a preocupação dessa alteração e de se levantar a horas de ir à missa da manhã - como se dizia - pelas 7 horas, porque depois da missa queria fazer o almoço e ir a Santa Luzia visitar a sua mãe, e ainda era um bocado a pé, naquela altura não havia automóveis como agora. Deitou-se, dormiu e acordou estremunhada pensando que tinha dormido muito, olhou para o pequeno relógio, na banca de cabeceira e, não se sabe como, pensou já serem horas de se levantar para ir à missa.
-O diabo tece-as! dizia ela,com uma expressão entre o zangado e o divertido.
Lá se levantou, tratou de pôr água na panela com os temperos e enquanto aguardou a fervura foi-se arranjar após o que deitou a carnina na panela, porque a minha mãe usava muito o diminutivo, ele era a , o leitinho, o pãozinho, a manteiguinha, o vestidinho... só eu a quem normalmente chamavam Clarinha era Clara quando fazia alguma maldade e ela dizia:
-Clara! Ficava em sentido, sem saber onde me meter...
Ficou a panela ao lume, porque a carne parecia dura, baixou o fogo, e saiu muito devagar para não acordar o meu pai e preocupada, porque já ia tarde para a missa.
Estranhou ao sair não encontrar nenhuma das vizinha, mas como ia atrasada...
Ao passar no cruzeiro ainda olhou para nossa senhora que dormitava no seu nicho, olhou para a casa  da senhora Albertina , do Alfarra , do Luís do Morgado, ninguém!
-Vou mesmo atrasada, pensava com os seus botões...
Tinha esperança de ver descer a rampa de casa, a senhora Nazaré do Ratinho, mas não, nem vivalma!
Sobe apressadamente os degraus da igreja e encontra a porta principal fechada. 
- O que se passa? Terá o sacristão adormecido? Estará a porta lateral aberta? Não tudo fechadinho nem um ovo!
Até aqui muito calma, deu por si com o coração aos pulos, sem compreender bem em que alhada estava metida.
-Querem ver que a missa é mais tarde hoje e eu não soube da mudança?!!
No regresso a casa quase que os pés não tocavam no chão, devagarinho entrou em casa, apagou o fogão e foi-se deitar novamente, quando pelo canto do olho vê o pequeno relógio que marcava 2 horas da madrugada, uma hora, porque a hora atrasava, e o meu pai dormia regalado sem dar conta das turbulências que se passavam à sua volta.
E então a minha mãe rematava ao contar esta história:
-Deus sabe que a minha vontade de cumprir era grande!

quarta-feira, 24 de outubro de 2018

À procura do Sol!

Os meus pobres, tristes e raquíticos girassois...


Num  mês de Março, de um ano um pouco distante, fiz uma coisa que para mim foi uma tarefa "hercúlea", semei girassois! A partir daí fiquei a esperar e a sonhar com abundantes renques de grandes flores amarelas, decorando as redondezas da minha casa e alegrando nossos olhos e os dos vizinhos e visitantes. Fiei-me então na sorte que faria brotar as grandes flores amarelas com seus olhos castanhos, a espreitarem o sol... O pior foi mesmo ter incluído a sorte em meus planos!!! E esperar sentada, como se costuma dizer.
Eis senão quando vejo florir as flores do meu vizinho que me havia dado as sementes e as minhas, nada... ficaram grandes, mereciam elogios das pessoas que passavam, as outras, as do vizinho, as minhas foram brotando a custo, devagarinho, envergonhadasraquíticas... e eu decepcionada e envergonhada como as minhas flores!
Envergonhada sim, porque com a minha idade e experiência de vida, já deveria saber que essa atitude de se esperar pela sorte não dá certo; temos de lutar, trabalhar, insistir, suar para que dê certo e então o sol, as flores, a cor, a felicidade brote na nossa vida.
Não falo de projectos grandiosos, falo do dia a dia , da amizade, das relações interpessoais em família, no trabalho, na escola, falo da saúde, da nossa casa, dos estudos, do crescer... Tudo dá trabalho, tudo tem que ser regado, adubado, amado, acarinhado, para se atingir o patamar ideal que propicie êxito, resultado, bem - estar e felicidade.
Não podemos mudar a direcção dos ventos, é algo que não está ao nosso alcance, mas podemos regular a nossa vida para rumarmos a bom porto, a bom destino, fazendo o que acreditamos ser certo, aproveitando o encantamento que nos rodeia, não esquecendo que para cada problema há uma solução, basta regar os girassois e ter presente que esta flor leva a vida a girar à procura do sol.
Os meus raquíticos girassois tiveram o condão de me fazer pensar nestas coisas, não se perdeu tudo...
E tu amiga(o) , não te esqueças da minha triste experiência, aduba, rega, ama as flores que a vida te oferece e procura o sol que aquecerá o teu coração!!!

terça-feira, 23 de outubro de 2018

Eu quero sorrir...

Eu quero sorrir
Para ti,
Minha amiga de verdade,
E para ti também,
Para quem sou indiferente.
Eu quero sorrir
Para os que sofrem
Terríveis e cruéis doenças, 
Do corpo, do coração ou da mente
Ou de saudade de alguém. 
Eu quero sorrir
Ao vento
Para que espalhe uma mensagem
De  alegria e esperança
E que na aragem te traga
Paz, trabalho e muito amor.
Eu quero sorrir
Ao Sol
Para que a todos aqueça
E que da terra faça brotar
Muito verde, muita cor.
Eu quero sorrir
Ao mar
Para que a espuma das ondas
Espalhe muita ternura
E apague a amargura
Dos desamparados e pobres.
Eu quero sorrir, sorrir, sorrir...
Até meus lábios gelarem,
Até meus olhos não verem,
Os indiferentes e inimigos,
Os familiares e amigos,
O vento, o sol e a espuma do mar
E os pássaros a chilrear.
Eu quero sorrir, sorrir, sorrir...
Para sempre!

Clara Faria da Rosa

domingo, 21 de outubro de 2018

O sapato certo para o nosso pé

"As quedíssimas altíssimas"
Sabemos que os adjectivos são palavras que caracterizam os seres e as coisas. Pois eu convivi em tempos com uma colega para quem tudo o que tinha era o máximo: as suas roupas, os seus adornos, a sua família, a sua casa eram sempre alvo de adjectivos no mais alto grau...
Eis se não quando, certo dia, ao encontrar-me com ela, toda prazenteira me diz:
- Cheguei tarde porque fui comprar uns sapatos novos para um casamento, são de um vermelhíssimos lindíssimo e têm umas quedíssimas altíssimas!
Fiquei a olhar para ela boquiaberta. O seu ego estava tão em alta que já não lhe bastava usar o adjectivo no grau superlativo absoluto, precisou de usar, coisa inédita e gramaticalmente incorrecta, o substantivo nesse grau!
Infelizmente os tempos passam, já  não usa sapatos, nem chinelos, nem pantufas porque está acamada e eu, que também já usei "quedíssimas altíssimas", embora só em dias de festa, agora uso sapatos bem confortáveis para poder pousar os pés com segurança, pois o chão é duríssimo, usando o adjectivo preferido da minha ex colega.
 Pensando bem e concluindo,  podemos correr, saltar e pular mas a vida encarrega-se de nos proporcionar, nas alturas oportunas os sapatos certos para o nosso pé e não serão sempre "quedíssimas altíssimas ", disso podemos ter a certeza!

terça-feira, 16 de outubro de 2018




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No dia mundial do pão
Pela televisão, fiquei sabendo que se comemora hoje dia 16, o Dia Mundial do Pão; Curiosamente, nem sabia da existência desta efeméride, mas afinal , nada é mais justo, pois o pão é a base da alimentação de muita gente e, tanto é verdade e tão grande a sua importância, que quando rezamos a oração do pai nosso, pedimos a Deus: " o pão nosso de cada dia nos dai hoje"
Por coincidência, comprei hoje , um pão de milho, a chamada broa, ainda quentinho, e que prevejo delicioso!
Naturalmente, não encontraria maneira melhor de celebrar este dia, dedicado ao pão, do que a saborear uma boa fatia do mesmo, com chicharros fritos, pensava eu, enquanto em simultâneo ouvia algumas crianças que ao serem questionadas, por um programa de televisão, sobre a origem do pão dizerem que o mesmo vinha do Pingo Doce, do padeiro, da pastelaria etc. Claro
 que falavam das suas vivências, do que vêem, do que é a vida actual...
Então, divagando, o meu pensamento leva-me à minha infância, vejo o meu pai a semear o trigo e o milho,vejo estes cereais crescerem, o dia de ceifar o trigo e as desfolhadas que se faziam no nosso quintal, ouço o chiar do carro de bois carregadinho de molhos de trigo a caminho da debulhadora, e vejo sacos de trigo, como os da foto, empilhados a um canto, donde a minha mãe ia tirando o suficiente, que media nas "rasoiras " cuja foto mostro, para o moleiro levar e transformar em farinha, ficando o sobejante para a sementeira do ano seguinte. Lembro a minha mãe toda empoada peneirando a farinha para fazer o pão que amassava, de mangas arregaçadas, em alguidares de barro, sobre rodelas de trabalho louco, que fazia aos domingos , sentada no canto do estrado e lembro o cheiro do pão quentinho ao sair do forno, que a minha mãe abafava com os abafadores, também feitos por ela, para que o pão ficasse muito maciinho, como dizia .
Então dou por mim a pensar:
- Que infância enriquecedora foi a minha! Como estou grata por ter tido oportunidade de vivenciar tudo isto! Eram tempos difíceis, se compararmos com as actuais facilidades, contudo, não podemos esquecer que "sem os rochedos as ondas nunca seriam tão altas"!



segunda-feira, 15 de outubro de 2018

Esquerdinos , destros e a tesoura da minha mãe
Calcula-se que 10 a 12% da população mundial seja esquerdina, os ditos em linguagem corrente, canhotos, ou seja os que têm mais habilidade na mão esquerda e nos membros do lado esquerdo e sofrem para se encaixar num mundo maioritariamente de destros, isto é dos que utilizam preferencialmente a mão direita.
Embora este seja um assunto que tem exigido aos especialistas muitos e aprofundados estudos, o que se refere logo à partida, é que se trata de uma predisposição genética que ao longo dos tempos causou muito sofrimento aos que a tinham, chegando-se ao ponto de punir as crianças por usarem a mão esquerda . Sabe-se que os esquerdinos têm mais tendência para a genialidade, bastando para o confirmar citar alguns esquerdinos famosos como:
-Einstein (Cientista)
-Angelina Jolie (Actriz)
-Napoleão Bonaparte (Imperador de França)
-I Newton (Cientista)
-Bill Gates ( fundador da Microsoft) e muitos mais...
Tem cabimento citar aqui os ambidestros , aqueles que têm capacidade de utilizar igualmente as duas mãos de forma normal e com a mesma habilidade, embora eu pense que essa característica tenha a ver com questões de educação e ou foram forçadas a contrariar a sua tendência natural tornando-se versáteis em ambas as mãos.
A minha mãe era esquerdina numa época em que isso era considerado um defeito grande e grave e não havia as respostas e os utensílios criados a pensar nessa diferença, sendo costureira de profissão, toda a vida cortou tecido com a mão esquerda, com uma tesoura fabricada para os destros, mas ela nunca desistiu, insistiu e acomodou-se de tal forma que ganhou uma calosidade no polegar esquerdo, que a acompanhou até à morte.
Guardo essa tesoura religiosamente sentindo que merecia estar num cofre ou numa vitrine pelo que representa para mim pois foi, em parte, graças a ela que tive possibilidade de me deslocar para a cidade e frequentar o ensino secundário e o magistério primário e também ganhar a faculdade e a capacidade de comunicar contigo de forma simples, acessível e compreensiva!
Foi por isso que a emoldurei, e coloquei num local estratégico, para me lembrar que, quando queremos muito uma coisa, não há obstáculos que nos consigam derrubar!


sábado, 13 de outubro de 2018

A vinha da Caldeira

"Quem tem rabo tem medo"
A caldeira das Lajes, na ilha Terceira, Açores, é um lugar muito calmo e pitoresco, com muitas vinhas, e um caminho pedonal que leva os caminhantes até uma agradável piscina. Tenho lá uma vinha, que é rodeada por muitas outras, abandonadas, porque os donos faleceram ou entendem que é mais fácil e mais barato, comprar vinho engarrafado nas grandes superfícies comerciais. Porque  não queremos que o nosso espaço seja infestado com as espécies que vêm dos terrenos contínuos, fomos lá com homens de trabalho, para que se fizesse uma limpeza.
Ao olhar para as curraletas, separadas com as características pedras negras de basalto, decoradas com os ramos de videira que por elas trepavam, pensei no meu pai. Sim, pensei que ele devia estar feliz, por ver a vinha, que era a menina dos seus olhos, limpa e tratada. Pensei também na azáfama dos dias que antecediam a vindima para se prepararem os balceiros, as pipas, o lagar, os cestos e tudo o mais...
Vi-me a balançar, metida no balceiro, com os meus primos, só com a cabeça de fora, e com os nossos chapéus de palha, parecíamos girassóis. Cheirei as sacas de retalhos e as cestas onde vinham os chicharros de cebolada, o pão, o sumo e o vinho para o almoço, lembrei-me dos pratos azuis de plástico, comprados propositadamente para os dias da vindima e lembrei-me de uma vizinha, amiga da minha mãe, uma mulher muito conhecida e característica, que tinha sempre uns ditos engraçados - A tia Rita Ventura, que Deus a tenha junto de si!
Lembrei-me que certo ano, a tia Rita, foi ajudar na vindima, mas como era muito gulotona, não resistiu a saltar ao prédio do vizinho para uma barrigada de figos, satisfeita de tanto figo, ala apanhar uvas, eis senão quando ouve-se uma gritaria:
Comeram tudo, comeram tudo, não ficou nada!
A desgraçada, com a consciência pesada, só se lembrou dos figos que tinha comido, deu-lhe uma tal dor de barriga que a obrigou a acocorar-se numa curraleta mais funda, à espera do que desse e viesse...
Afinal o homem gritava porque uns porcos tinham ido ao almoço, guardado à sombra de umas faias, e o que a minha mãe, com tanto gosto, preparara, já não era comestível, tivemos que voltar para casa para um almoço improvisado!
Ainda a estou  a ouvir dizer ao meu pai:
- Ai Chico, que susto, já me estava a ver na polícia, ai se o meu "home" sabe disto!...
Ao que o meu pai, aborrecido com o acontecido respondeu:
- Ora tia Rita, a tia sabe bem que  "quem tem rabo tem medo"! 











sexta-feira, 12 de outubro de 2018

Criatividade e requinte na vila das Lajes:



Bodo-de-leite;

Acho que a melhor forma de explicar o que se passou na terça-feira passada, dia 9, no bodo-de-leite da vila das Lajes, ilha Terceira, Açores, é comparar o acontecimento a uma orquestra, em que um numeroso grupo de pessoas, cada um deles artista à sua maneira, e cada um deles suficientemente humilde para contribuir com o seu trabalho, com o seu talento, compreendendo que é da união que nasce a força, de modo a que o conjunto tenha vida, e seja apreciado na totalidade.
Pois o que vi e apreciei foi um espectáculo, com um fio condutor, com um pormenor, um colorido, uma alegria e requinte dignos de registo, que dificilmente será esquecido e ultrapassado.
Obrigada a todos os que participaram, cada um à sua maneira, como acima refiro e parabéns às Lajes que mais uma vez registaram a sua criatividade e o seu valor...