Saio da Caixa Geral de Depósitos, em Angra do Heroísmo, atravesso a rua da Sé e no edifício que faz canto com a rua Direita, olho uma loja que vende roupa de homem mas, no meu pensamento, vejo a loja Berbereia & Lourenço, que funcionava naquele espaço na década de cinquenta do século passado, da qual exalava um cheiro a café do outro mundo! Entro pela mão de minha mãe e então, admiro-me e delicio-me com a profusão de diferentes produtos e com o agradável odor a café. Após algum tempo de espera, pois o espaço era muito procurado, lá atendem a minha mãe que sempre que vinha "à cidade", aproveitava para se abastecer e lá pede: - cevada, café para misturar com a cevada, para ficar mais barato e algum café em grão que mais tarde poderia torrar e moer, tudo embrulhado em papel que o empregado fechava com um jeito de dedos muito hábil e peculiar, que eu apreciava encantada. Já em casa, toca de ferver água e pôr sobre a cevada com uma colher de sopa de café misturada, que depois punha a coar num saco branco, com feitio de funil que, estava sempre preparado para exercer as sua funções. E, pronto, era a nossa bebida misturada com leite.
O que te conto, faz parte da minha herança, da minha cultura e até certo ponto da cultura de Angra do Heroísmo. Acredito que, todas as famílias têm histórias que, se forem contadas, passam a fazer parte da história de todos e ajudam os mais jovens a ter a noção do passado mais afastado ou mais recente... Ou pensam que foi sempre sentar à mesa de um café e pedir uma bica ou um galão?!
E a comprovar tudo isto aqui vai o meu vetusto moinho que moía os acima citados grãos, cujo pó ia caindo na gavetinha !