Em tempos idos, mais precisamente na segunda metade da década de cinquenta do século passado, não havia pronto a vestir, era tudo feito em casa ou nas costureiras, roupa de cama, toalhas de mesa e ou de banho e de rosto, camisas de noite, combinações, corpetes, cuecas, camisas e calças de homem, fatos de homem, vestidos, saias e casacos...Enfim tudo o que fosse preciso.
Vai daí que, sendo minha mãe costureira, fazia isto tudo com exceção de fatos de homem. Certo dia, recebe uma cliente que vinha preparar-se para as festas de verão, com uma quantidade de peças de tecido, entre as quais um tecido de popelina cor-de-rosa, com umas flores muito mimosas- Estou a ver isto tudo, passados que foram tantos anos, talvez uns sessenta e cinco.
- É para fazer cuecas- diz a cliente - mostrando o tecido cor-de-rosa e muitas rendas, para alindar o trabalho.
-E onde está o molde? - pergunta a minha mãe, porque normalmente a cliente trazia uma peça nova ou muito bem lavada, para modelo.
-Espera Mariquinhas, era a minha mãe, que se chamava Maria mas a quem todos carinhosamente tratavam assim, vou ali à casinha e já venho...
E lá ficou a minha mãe expectante sem saber o que ia sair dali. Eis senão quando, aparece a cliente de cuecas na mão, amarrotadas e mal cheirosas.
- Serve-te destas, para molde, porque me ficam muito boas - diz a cliente.
Estou a ver a minha mãe, de nariz franzido, a pegar nas cuecas com a ponta dos dedos e a estendê-las sobre o papel para fazer o molde...
- Para o que eu estava destinada - dizia ela - nunca mais me apanha desprevenida, pois já enrolei o molde e escrevi o nome em letras bem grandes ! CUECAS DE ... e lá vinha o nome.
Não são estas as cuecas da história, são ainda mais antigas, mas estão muito branquinhas, foram lavadas, postas ao sol a corar e lavadas novamente, diz lá se as nossas avós não ficavam bem protegidas?!
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