segunda-feira, 29 de novembro de 2021

Uma história de cuecas...


Escusado será dizer que as coisas já não são o que eram, especialmente para os da minha geração e para os da geração anterior à minha, que ainda estiverem por cá, os posteriores foram nascendo, adaptando-se e aprendendo a viver com as mudanças, nem deram por isso, até estranharão, os que porventura me lerem, esta introdução explicativa.
Em tempos idos, mais precisamente na segunda metade da década de cinquenta do século passado, não havia pronto a  vestir, era tudo feito em casa ou nas costureiras, roupa de cama, toalhas de mesa e ou de banho e de rosto, camisas de noite, combinações, corpetes, cuecas, camisas e calças de homem, fatos de homem, vestidos, saias e casacos...Enfim tudo o que fosse preciso.
Vai daí que, sendo minha mãe costureira, fazia isto tudo com exceção de fatos de homem. Certo dia, recebe uma cliente que vinha preparar-se para as festas de verão, com uma quantidade de peças de tecido, entre as quais um tecido de popelina cor-de-rosa, com umas flores muito mimosas- Estou a ver isto tudo, passados que foram  tantos anos, talvez uns sessenta e cinco.
- É para fazer cuecas- diz a cliente - mostrando o tecido cor-de-rosa e muitas rendas, para alindar o trabalho. 
-E onde está o molde? - pergunta a minha mãe, porque normalmente a cliente trazia uma peça nova ou muito bem lavada, para modelo.
-Espera Mariquinhas, era a minha mãe, que se chamava Maria mas a quem todos carinhosamente tratavam assim, vou ali à casinha e já venho...
E lá ficou a minha mãe expectante sem saber o que ia sair dali. Eis senão  quando, aparece a cliente de cuecas na mão, amarrotadas e mal cheirosas.
- Serve-te destas, para molde, porque me ficam muito boas - diz a cliente.
Estou a ver a minha mãe, de nariz franzido, a pegar nas cuecas com a ponta dos dedos e a estendê-las  sobre o papel para fazer o molde...
- Para o que eu estava destinada - dizia ela - nunca mais me apanha desprevenida, pois já enrolei o molde e escrevi o nome em letras bem grandes ! CUECAS DE ... e lá vinha o nome.
Não são estas as cuecas da história, são ainda mais antigas, mas estão muito branquinhas, foram lavadas, postas ao sol a corar e lavadas novamente, diz lá se as nossas avós não ficavam bem protegidas?!
 





 



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