Miguel Torga e a minha ida à Feira da Ladra…
Num Sábado distante, fui até ao Martim Moniz na baixa de Lisboa, onde apanhei o elétrico 28 para ir até à Feira da Ladra. Ao apear-me deparei-me com a fachada simples e simétrica mas sumptuosa, da igreja ou mosteiro de São Vicente de Fora, com as suas torres aos lados e sobre a entrada as estátuas de São Vicente, Santo Agostinho e São Sebastião, fica à entrada para a Feira da Ladra, na freguesia de São Vicente, concelho de Lisboa, no bairro de Alfama.
Em 1173 São Vicente foi proclamado padroeiro de Lisboa quando as suas relíquias foram transferidas do Algarve.
Este mosteiro começou a ser construído em 1582 no local onde D. Afonso Henriques havia mandado construir um primeiro templo em honra deste santo.
Embora o dia estivesse chuvoso, frio e com pouca afluência, lá fui deambulando por entre as várias bancas e barracas até que, numa banca de alfarrabista, encontrei um livro de Miguel Torga, um escritor de quem gosto muito! A 12ª edição de "Contos da Montanha", lá regateei o preço e acabei por comprar. O que é engraçado é que o mesmo incluía o prefácio à segunda edição, escrito em 1945, um prefácio à terceira edição feito em 1952, e um à quinta edição de 1966.
O que me chamou a atenção foi o prefácio à segunda edição quando Torga dizia:
"Escrevo-te da Montanha, do sítio onde medraram as raízes deste livro, encontrei tudo como deixei quando escrevi a primeira edição. Apenas vi mais fome, mais ignorância e mais desespero. Corre por estes montes um vento desolador de miséria que não deixa florir as urzes nem pastar os rebanhos". Isto em 1945, não era eu ainda nascida! Palavras proféticas…
Pensando bem, em 2021 poder-se- ia reescrever Torga fazendo umas ligeiras substituições:
Corre neste país um vento desolador de miséria, corrupção, desrespeito e desamor que não deixa florir os cravos de Abril, nem viver com dignidade…
17Ercilia Borges, Maria Jose Morais e 15 outras pessoas
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